Um Dia Fora de Controle: Quando a Paternidade Encontra os Mercenários em Uma Comédia de Ação Inusitada e Confusa


Um pai recém-demissionário em busca de conexão com o filho. Um playdate aparentemente normal. E, de repente, uma perseguição de mercenários e a revelação de um clone de supersoldado. Este é o terreno absurdamente fértil de Um Dia Fora de Controle (originalmente Playdate), filme de 2025 que estreou no catálogo da Amazon Prime Video. Dirigido por Luke Greenfield, cineasta conhecido por Show de Vizinha e Let’s Be Cops, o longa promete uma comédia de ação despretensiosa. O que se entrega, contudo, é uma jornada irregular, onde lampejos de diversão genuína e uma dinâmica de elenco promissora brigam constantemente com um roteiro caótico e uma produção que, em momentos, beira o amadorismo. É um filme que oscila entre o “tão ruim que é bom” e o simplesmente esquecível, dependendo inteiramente da disposição do espectador para desligar o cérebro e abraçar o nonsense.


Elenco e Atuações: A Química que (Quase) Salva o Dia

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O maior trunfo de Um Dia Fora de Controle reside, sem dúvida, na dupla central e na premissa cômica de seus opostos.

Kevin James como Brian Jennings: James encarna o arquétipo que domina: o homem comum, deslocado e cômico pela sua inaptidão. Seu Brian é um contador que perdeu o emprego e agora tenta, sem sucesso, navegar a paternidade em tempo integral do enteado. James está no piloto automático de sua persona cômica, mas funciona dentro do esperado. Seu desespero mudo e reações físicas às sandices ao seu redor fornecem alguns dos momentos mais consistentemente engraçados, especialmente quando serve de contraponto racional (ainda que inútil) ao caos.

Alan Ritchson como Jeff Eamon: Esta é a peça mais interessante do quebra-cabeça. Ritchson, em alta após o sucesso de Reacher, é escalado contra o tipo. Seu Jeff é um ex-soldado das Forças Especiais, hiperativo, emocionalmente instável e com a sutileza de um trator. A aposta de transformar a imagem de herói estoico de Ritchson em uma fonte de humor absurdo é corajosa. Em cenas isoladas, ele consegue ser hilário, especialmente quando sua lógica distorcida colide com a normalidade. No entanto, a performance, por vezes, parece indecisa entre a paródia e a seriedade, e o roteiro não lhe dá material suficiente para construir um personagem coerente, e não apenas uma caricatura.

Elenco de Apoio: Nomes como Sarah Chalke, como a esposa profissional de Brian, e Alan Tudyk aparecem, mas suas participações são tão breves e subutilizadas que mal deixam marca. Os jovens Benjamin Pajak (Lucas) e Banks Pierce (CJ, o clone) cumprem suas funções, mas o foco narrativo nunca se aprofunda significativamente nos relacionamentos pai-filho que supostamente motivam a trama.

A química entre James e Ritchson é o motor do filme. Os melhores momentos são os diálogos rápidos e as trocas de olhares de incredulidade no meio do caos. É uma dinâmica que lembra, em aspiração, duplas clássicas de comédia de ação, mas que esbarra na inconsistência do material oferecido.


Narrativa e Roteiro: Uma Montanha-Russa de (Más) Ideias

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Aqui reside o calcanhar de Aquiles do projeto. O roteiro de Neil Goldman parte de uma premissa divertida – o playdate que descamba para uma fuga de agentes do governo – e rapidamente a soterra sob camadas de reviravoltas cada vez mais improváveis e mal explicadas.

Virtudes: O filme é ágil. Com seus 94 minutos, não há tédio. A premissa inicial é eficiente para estabelecer o conflito, e alguns gags visuais, especialmente envolvendo a violência hiperbólica e desproporcional de Jeff contra capangas em locais banais (como um restaurante temático), funcionam pela surpresa e pelo absurdo.

Defeitos: A estrutura é uma sequência de eventos desconexos. A introdução do elemento de clonagem e do vilão excêntrico (Simon Maddox) joga o filme em um território de ficção científica barata que não conversa bem com o tom de comédia de vizinhança do primeiro ato. As motivações dos vilões são rasas, os furos de roteiro são abundantes (como a facilidade com que um contador e um soldado desajustado invadem instalações ultrassecretas), e o clímax em uma base repleta de clones “selvagens” é executado com uma seriedade que beira o ridículo, sem conseguir decidir se quer ser emocionante ou cômico. O ritmo é quebrado por cortes abruptos e a narrativa perde completamente o foco no seu núcleo emocional – a construção da relação entre Brian e Lucas – para se dedicar a explosões e perseguições genéricas.


Direção e Produção: Onde a Magia do Cinema Desvanece

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Luke Greenfield, que já demonstrou habilidade com comédias de alto conceito, parece lutar para encontrar o tom certo aqui. A direção alterna entre uma abordagem quase found-footage em algumas cenas de ação, com shaky cam excessivo, e uma estética televisiva plana nos momentos de diálogo.

Os elementos técnicos são, francamente, decepcionantes para um lançamento de 2025 de um grande estúdio de streaming:

Efeitos Visuais: As cenas com CGI, notavelmente os clones em massa e algumas tomadas externas de ação, possuem uma qualidade que remete a produções de uma década atrás. Críticos e espectadores apontam abertamente greenscreens mal integrados e efeitos visuais pobres.

Fotografia e Edição: A fotografia de Darran Tiernan carece de uma identidade visual. A edição, por sua vez, é caótica. Enquanto alguns elogiam a edição por adicionar à comédia com zoom-ins forçados e cortes bruscos, para a maioria, ela contribui para a sensação de desorganização e dificulta o acompanhamento das cenas de ação, que deveriam ser o carro-chefe.

A produção parece ter canalizado todos os recursos para o elenco principal, deixando a parte técnica claramente negligenciada, o que constantemente puxa o espectador para fora da experiência.


Temas e Contexto: Paternidade em Tempos de Caos

Por baixo de toda a pancadaria e nonsense, Um Dia Fora de Controle tenta, mesmo que timidamente, falar sobre paternidade e identidade.

Brian representa o pai inseguro, que acredita que não é “suficiente” porque não se encaixa em um modelo tradicional de masculinidade ou sucesso profissional. Sua jornada, em teoria, é sobre aprender que a presença e o esforço valem mais que a perfeição.

Jeff, por outro lado, é o “macho alfa” problemático, cuja identidade foi forjada na violência e que não sabe se relacionar de forma saudável. A revelação de que CJ é seu clone força uma reflexão (superficial) sobre legado, responsabilidade e o que realmente significa criar um “filho”.

O filme também esbarra em temas de ética científica e militarização, com o plano dos vilões de criar um exército de clones sem emoções para substituir soldados humanos. No entanto, essa crítica social é tratada com a profundidade de um seriado infantil, servindo apenas como pano de fundo para mais cenas de briga.

Infelizmente, esses temas interessantes são soterrados pela necessidade incessante do roteiro de progredir para a próxima cena de ação ou o próximo gag. A mensagem final sobre família é entregue de forma apressada e sentimentalóide, sem ter sido genuinamente conquistada pela narrativa.


Um Playdate com o Excesso

Um Dia Fora de Controle é o equivalente cinematográfico de uma criança hiperativa: tem energia de sobra, ideias mirabolantes, mas falta foco, disciplina e um rumo claro. Ele é, acima de tudo, um produto de sua era: feito para streaming, consumido com meio olho no celular, e facilmente descartável na memória.

Recomenda-se apenas para fãs incondicionais de Alan Ritchson, curiosos para vê-lo em um registro diferente, ou para grupos que buscam uma sessão de riffing, rindo das escolhas do filme, e não necessariamente com elas. Para quem valoriza construção narrativa coerente, comediantes com material à altura e uma direção técnica competente, este é um playdate que pode – e deve – ser recusado. É um filme que promete uma tarde fora de controle, mas entrega, principalmente, um roteiro fora de rumo.

Nota IMDb: 4.8/10

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