The Last of Us – Temporada 2: A Vingança que Perdeu o Brilho


A segunda temporada de The Last of Us chegou à Max em 2025 prometendo expandir o universo desolador que conquistou o público, mas o que encontramos foi uma jornada marcada por uma ambição narrativa que, infelizmente, tropeçou em seus próprios pés. Esperávamos a continuação da obra-prima, a profundidade emocional e a tensão implacável que definiram a estreia. Recebemos, em vez disso, uma sombra pálida, uma adaptação que, embora visualmente impressionante e tecnicamente competente, parece ter perdido a alma no caminho tortuoso da vingança, deixando um gosto amargo de decepção e potencial desperdiçado.


Ecos de Jackson: Uma Calmaria Enganosa

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Os primeiros episódios de The Last of Us – 2ª temporada, nos reintroduzem a Joel (Pedro Pascal) e Ellie (Bella Ramsey) cinco anos após os eventos traumáticos de Salt Lake City. Assentados na comunidade de Jackson, Wyoming, um vislumbre de normalidade tenta se estabelecer. Vemos Ellie tentando ser uma adolescente, navegando amizades e o primeiro amor com Dina (Isabela Merced), enquanto Joel lida com as consequências de sua mentira e uma crescente distância de sua protegida. A dinâmica inicial em Jackson, com a presença de Tommy (Gabriel Luna) e Maria (Rutina Wesley) tentando manter a ordem, e a introdução de Jesse (Young Mazino), ex de Dina e amigo de Ellie, prometia explorar as complexidades das relações forjadas sob pressão extrema. Há lampejos de brilhantismo aqui, especialmente na forma como a série retrata a fragilidade da paz em um mundo destruído. Contudo, essa calmaria parece mais uma preparação longa e, por vezes, arrastada para o inevitável mergulho na escuridão. A série gasta tempo considerável estabelecendo a vida em Jackson, mas essa construção nem sempre se traduz em tensão ou profundidade, parecendo mais um adiamento do conflito central do que um desenvolvimento orgânico. A sensação é que a urgência narrativa da primeira temporada deu lugar a uma contemplação que nem sempre justifica seu ritmo.


Atuações Sob a Névoa da Vingança

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O elenco de The Last of Us em sua 2ª temporada (um dos pilares da primeira temporada) retorna com performances majoritariamente sólidas, mas frequentemente limitadas por um roteiro que parece mais interessado na trama do que na exploração psicológica profunda que marcou seu antecessor. Bella Ramsey continua a ser o coração pulsante como Ellie. Sua transformação de adolescente sarcástica para uma jovem consumida pela dor e pelo desejo de vingança é visceral e, por vezes, dolorosa de assistir. Ramsey carrega o peso emocional da temporada, transmitindo a perda de inocência e a dureza adquirida com uma intensidade notável. No entanto, a complexidade de sua jornada é por vezes prejudicada por decisões narrativas que simplificam seus dilemas morais. Pedro Pascal, como Joel, tem uma presença mais contida nesta temporada, refletindo o estado de seu personagem, mas a dinâmica tensa e não resolvida com Ellie, embora central, parece subexplorada em favor da busca por vingança. Sua vulnerabilidade física e emocional é palpável, mas sentimos falta de mais momentos que aprofundassem o impacto de suas ações passadas em seu presente. Isabela Merced como Dina traz calor e uma química genuína com Ramsey, servindo como um contraponto importante à escuridão de Ellie, enquanto Young Mazino confere a Jesse uma maturidade e pragmatismo bem-vindos, destacando-se em cenas que exigem sensatez em meio ao caos. A introdução de Kaitlyn Dever como Abby, uma figura central e controversa do jogo, era altamente antecipada. Deveria entregar uma performance fisicamente imponente e carregada de conflito interno, mas sua personagem sofre com uma presença limitada e um desenvolvimento que parece apressado e superficial nesta primeira parte da adaptação de “Part II”. Sua perspectiva, crucial para a complexidade moral da história, é apenas esboçada, deixando o espectador com uma compreensão incompleta de suas motivações, o que enfraquece o impacto de suas ações e do confronto inevitável com Ellie. Outros coadjuvantes, como Jeffrey Wright reprisando seu papel como o líder da WLF, Isaac, têm pouco tempo de tela para causar um impacto duradouro.


Produção Impecável, Roteiro Nem Tanto

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Não há como negar a excelência técnica da produção. A HBO mais uma vez não poupou recursos para recriar o mundo pós-apocalíptico de The Last of Us. A direção de arte é meticulosa, desde as paisagens urbanas tomadas pela natureza até os interiores claustrofóbicos e perigosos. A cinematografia captura tanto a beleza desoladora quanto o horror brutal desse universo. Episódios específicos, como o dirigido por Mark Mylod, entregam sequências de ação e tensão com os Infectados que são de tirar o fôlego, demonstrando um domínio técnico impressionante. A trilha sonora de Gustavo Santaolalla continua a ser um elemento evocativo fundamental. O problema reside fundamentalmente no roteiro e na estrutura narrativa. A decisão de dividir “The Last of Us Part II” em múltiplas temporadas era esperada, mas a execução nesta segunda temporada resulta em uma experiência fragmentada e insatisfatória. O ritmo é inconstante, alternando momentos de lentidão excessiva com sequências apressadas que não permitem que o impacto emocional assente. Críticas apontaram corretamente para problemas de pacing, especialmente no final, que parece correr para cobrir pontos cruciais da trama sem o devido desenvolvimento. A adaptação parece temer a brutalidade e a ambiguidade moral do material original. Momentos chave, como a morte de Mel, são alterados de formas que diminuem seu impacto e a complexidade das ações de Ellie, optando por acidentes trágicos em vez de atos de violência desesperada, como apontado por algumas análises. Essa hesitação em abraçar completamente a escuridão do jogo resulta em uma narrativa que, embora siga os eventos principais, parece diluída, menos corajosa e, consequentemente, menos impactante. A estrutura bifurcada, que funciona no jogo ao forçar o jogador a confrontar perspectivas opostas, aqui parece desorientadora e deixa a temporada com uma sensação incômoda de incompletude.


Moralidade Fraturada: O Peso das Escolhas (e da Adaptação)

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Tematicamente, a segunda temporada mergulha de cabeça na vingança, no ciclo de violência, na perda da inocência e na complexidade moral em um mundo sem lei. A jornada de Ellie é uma descida ao inferno pessoal, onde a busca por justiça se confunde perigosamente com a retaliação cega. A série tenta explorar como a violência corrompe e como as escolhas feitas em nome do amor ou da perda podem levar à desumanização. Vemos o contraste entre a tentativa de construir uma comunidade em Jackson e as facções em guerra em Seattle (a WLF e os Serafitas), cada uma com sua própria versão distorcida de ordem e moralidade. O problema é que essa exploração temática, embora presente, muitas vezes carece da nuance e da profundidade que tornaram a primeira temporada e o jogo tão ressonantes. A série parece mais interessada em chocar com eventos brutais do que em examinar suas consequências psicológicas de forma consistente. A ambiguidade moral, tão central no jogo, por vezes dá lugar a uma abordagem mais simplista. A dor e o trauma estão lá, visíveis nas performances, mas a reflexão sobre o que significa ser humano quando tudo foi perdido parece menos potente, ofuscada pela estrutura fragmentada e pela hesitação em confrontar as partes mais sombrias da história sem filtros.


Uma Espera Amarga pela Redenção

A segunda temporada de The Last of Us não é um desastre completo. Possui momentos de grande atuação, produção de altíssimo nível e sequências de ação impactantes. No entanto, falha em recapturar a magia coesa e a profundidade emocional de sua estreia. A narrativa fragmentada, o ritmo inconsistente e uma aparente relutância em abraçar a complexidade brutal do material original resultam em uma experiência decepcionante para quem esperava uma adaptação à altura do legado. É uma temporada que prepara o terreno para o futuro, mas o faz de forma hesitante e incompleta, deixando uma sensação de potencial não realizado e a esperança de que a continuação consiga, finalmente, fazer jus à história que se propõe a contar.

Nota IMDb: 7.1/10

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