A Última Caçada: Como Stranger Things 5 Parte 1 Reconecta os Fios para o Fim dos Tempos


Dezembro de 1987, e Hawkins está irreconhecível. A cidade fictícia que nos recebeu com o desaparecimento de Will Byers agora é uma zona de guerra sob quarentena militar, uma “masmorra” real onde nossos heróis estão encurralados. Stranger Things 5 Parte 1 (2025) não perde tempo com saudações nostálgicas. Os quatro primeiros episódios da temporada final funcionam como um meticuloso “dungeon crawl” – um termo de Dungeons & Dragons que dá nome ao primeiro episódio – onde a missão é clara: encontrar e eliminar Vecna antes que o Mundo Invertido consuma tudo. A série retorna após três anos com um propósito feroz, sacrificando um pouco do mistério investigativo que a definiu em prol de uma preparação bélica, reunindo todo o seu elenco disperso para uma última resistência. O resultado é um arco de estreia profundo e acelerado, que prioriza o choque emocional e a correção de rumos narrativos, preparando o terreno para um confronto que promete ser definitivo.


Uma Narrativa de Reencontro e Preparação para a Guerra

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A maior virtude desta primeira metade de Stranger Things 5 reside em sua coesão. Após a fragmentação geográfica da quarta temporada, que levou grupos a Califórnia, Nevada e à Rússia, os Irmãos Duffer tomam a sábia decisão de reunir todo o elenco principal em Hawkins. O cenário é perfeito para isso: a cidade está sitiada, com cercas militares e toque de recolher, forçando o grupo a operar como uma unidade de resistência clandestina. Essa união física reflete-se na narrativa, que flui de forma mais orgânica e direta. As subtramas estão intrinsecamente ligadas ao objetivo central de caçar Vecna, eliminando aquela sensação de histórias paralelas desconexas que às vezes pesava nas temporadas anteriores.

No entanto, essa urgência narrativa tem seu preço. A temporada abre com uma das revelações mais impactantes da série: um flashback para 1983 que mostra que Vecna (Jamie Campbell Bower) não apenas encontrou Will (Noah Schnapp) no Mundo Invertido, mas ativamente o infectou, marcando-o como parte de um plano maior desde o primeiro dia. Essa cena recontextualiza toda a jornada de Will e é um exemplo magistral de como amarrar pontas soltas. Contudo, o ritmo acelerado para colocar “as peças no tabuleiro” faz com que alguns núcleos recebam desenvolvimento desigual. Enquanto Will, Eleven e Dustin têm arcos profundos e emocionantes, personagens como Mike (Finn Wolfhard) e Lucas (Caleb McLaughlin) parecem, por ora, relegados a papéis mais reativos e de apoio. Além disso, a introdução da Dra. Kay (Linda Hamilton) como nova antagonista militar, apesar do casting icônico, ainda repete a fórmula do “cientista/governo obsessivo com a Eleven“, um conflito que já parece esgotado.


Elenco e Atuações: O Peso dos Anos e das Cicatrizes

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Os jovens atores de Stranger Things, que cresceram diante das câmeras, entregam algumas de suas atuações mais maduras e contidas, refletindo o peso que seus personagens carregam.

Noah Schnapp como Will Byers: Schnapp é, sem dúvida, o astro desta primeira parte. Sua performance captura perfeitamente a dor silenciosa e a angústia de um jovem que nunca conseguiu deixar o trauma para trás. A revelação de sua conexão primordial com Vecna dá a Schnapp um material poderoso, e ele o conduz com uma vulnerabilidade arrebatadora. Sua cena ao testemunhar Robin (Maya Hawke) beijando sua namorada, despertando para sua própria sexualidade em meio ao caos, é um momento de quietude e descoberta genuína.

Millie Bobby Brown como Eleven/Jane Hopper: Brown apresenta uma Eleven mais determinada e focada do que nunca, uma guerreira treinando incansavelmente com seu pai adotivo. A dinâmica com Hopper (David Harbour) é um dos pilares emocionais, misturando a teimosia protetora dele com a frustração dela por ser mantida à distância da batalha.

Gaten Matarazzo como Dustin Henderson: Matarazzo brilha ao mostrar um Dustin profundamente transformado pelo luto. Sua devoção à memória de Eddie Munson (Joseph Quinn) não é um mero detalhe, mas uma ferida aberta que o torna mais impulsivo e vulnerável. Suas cenas de dor silenciosa, como ao encontrar a lápide de Eddie vandalizada, são das mais comoventes.

David Harbour como Jim Hopper e Winona Ryder como Joyce Byers: A dupla veterana continua sendo o coração da série. Harbour equilibra o durão resiliente com a vulnerabilidade de um pai aterrorizado de perder a filha novamente. Ryder, por sua vez, mantém a ferocidade materna de Joyce, agora direcionada a proteger não apenas Will e Jonathan, mas toda a sua família improvisada.

A adição de Linda Hamilton como a fria e calculista Dra. Kay é uma jogada de casting perfeita em teoria, evocando imediatamente a resistência de Sarah Connor. No entanto, o roteiro ainda não lhe deu camadas suficientes para se diferenciar de vilões institucionais passados, parecendo mais um obstáculo funcional do que uma ameaça com profundidade.


Direção, Fotografia e a Escala do Fim do Mundo

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A produção de Stranger Things alcança novos patamares de escala e tensão. Hawkins devastada é um personagem por si só, com névoas sobrenaturais pairando sobre ruínas e a infraestrutura militar impondo um visual cinza e opressivo . A direção dos episódios (incluindo um capitaneado por Frank Darabont, no terceiro episódio) mantém o estilo clássico da série, mas com um ritmo mais cinematográfico e menos episódico.

As sequências de ação, principalmente as incursões (“crawls”) no Mundo Invertido, são coreografadas com uma clareza e intensidade que remetem aos melhores filmes de ação dos anos 80, como os de James Cameron. A tensão da operação de Hopper, seguido em tempo real pelo grupo em uma van na superfície, é um highlight de suspense. A trilha sonora, repleta de synthwave e canções icônicas como “Upside Down” de Diana Ross (usada como código pelos personagens), continua sendo um personagem vital, ancorando a narrativa em sua essência nostálgica.


Contexto Temático: A Perda da Inocência e o Preço da Memória

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Os temas centrais de Stranger Things evoluem aqui do “medo do desconhecido” para o “fardo do conhecido”. A inocência se foi de vez. Não se trata mais de crianças descobrindo um mundo secreto, mas de jovens adultos lidando com o trauma persistente e a responsabilidade de salvar o mundo pela enésima vez. O luto é um tema onipresente, seja na depressão de Dustin, na vigília de Lucas à beira do leito de Max (Sadie Sink), ou na própria cidade que chora suas perdas.

A memória e o passado são armas e prisões. Vecna opera através das lembranças dolorosas, e o maior poder do grupo agora é a memória de sua amizade e das batalhas passadas. A narrativa explora habilmente a ideia de que crescer não é esquecer, mas aprender a carregar o peso do que se viveu. A sutil jornada de autodescoberta de Will, confrontando sua sexualidade e seu lugar no mundo, é o exemplo mais tocante de como a série ainda encontra espaço para o drama de amadurecimento em meio ao horror sobrenatural.


Um Começo Promissor para o Fim da Jornada

Stranger Things 5 Parte 1 não é a temporada mais inovadora ou misteriosa da série. Ela assume conscientemente o papel de ator final e preparador do grande confronto. Seus maiores acertos estão na correção de rumos estruturais, no emocionante retorno de Will ao centro da trama e na poderosa atmosfera de cerco e resistência que construiu. Algumas subtramas batidas e o desenvolvimento desigual de personagens são defeitos perceptíveis, mas não suficientemente graves para descarrilar a experiência.

A sensação predominante é a de reencontro com velhos amigos — mais velhos, mais marcados, mas ainda lutando juntos. A série prova que, depois de quase uma década, o coração de Hawkins ainda bate forte nos laços entre seus personagens. Esta primeira parte garante que estaremos todos, como o grupo, unidos e ansiosos para a batalha final.

Nota IMDb: 8.2/10

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