Prepare-se para uma jornada que transcende o ordinário e mergulha nas profundezas da ciência, da família e do destino. Quarteto Fantástico: Primeiros Passos, dirigido com maestria por Matt Shakman, não é apenas mais um filme de super-heróis; é uma ode à exploração do desconhecido e às complexas relações humanas que emergem quando o extraordinário se torna a nova realidade. Este filme promete reacender a chama da Primeira Família da Marvel com uma narrativa que é ao mesmo tempo nostálgica e surpreendentemente fresca, capturando a essência de seus personagens icônicos enquanto os impulsiona para um futuro incerto e empolgante.
A Química que Define o Quarteto

O coração de qualquer adaptação do Quarteto Fantástico reside na química entre seus membros, e neste aspecto, Primeiros Passos acerta em cheio. Pedro Pascal, no papel de Reed Richards, o Sr. Fantástico, entrega uma performance que equilibra genialidade e uma certa vulnerabilidade social. Sua interpretação de um cientista brilhante, mas por vezes alheio às nuances emocionais, é convincente e humaniza o personagem de uma forma que poucas adaptações conseguiram. Vemos um Reed que, apesar de sua mente prodigiosa, luta para conectar-se em um nível mais profundo, especialmente com .
Vanessa Kirby, como Sue Storm, a Mulher Invisível, é a âncora emocional do grupo. Sua atuação é multifacetada, transmitindo a força e a inteligência de Sue, mas também a carga de ser a cola que mantém a família unida. A complexidade de seus poderes, que refletem sua natureza protetora e, por vezes, sua invisibilidade em um mundo dominado por egos masculinos, é sutilmente explorada. A dinâmica entre Kirby e Pascal é palpável, construindo uma base crível para o relacionamento central do filme.
Joseph Quinn, como Johnny Storm, o Tocha Humana, é a personificação da energia e do carisma. Ele captura a essência impetuosa e, por vezes, irresponsável de Johnny, mas também revela momentos de surpreendente maturidade e lealdade. Sua performance é um sopro de ar fresco, trazendo o humor e a leveza necessários para equilibrar os momentos mais dramáticos. A relação fraterna com Sue é bem desenvolvida, mostrando um carinho genuíno por trás das provocações.
Ebon Moss-Bachrach, como Ben Grimm, o Coisa, é a alma do filme. Mesmo sob camadas de maquiagem e efeitos visuais, Moss-Bachrach consegue transmitir a dor, a resiliência e o bom coração de Ben. A tragédia de sua transformação é sentida, mas sua capacidade de encontrar força e humor na adversidade é inspiradora. A amizade com Reed é o pilar da equipe, e o filme explora essa ligação com sensibilidade, mostrando os altos e baixos de um vínculo que é testado pelas circunstâncias mais extraordinárias.
O elenco de apoio também brilha. Ralph Ineson como Galactus, embora com tempo de tela limitado, impõe uma presença ameaçadora e cósmica, elevando o nível da ameaça. Julia Garner e Paul Walter Hauser, em papéis secundários, adicionam camadas interessantes à narrativa, contribuindo para a riqueza do universo estabelecido. A escolha do elenco é, sem dúvida, um dos maiores trunfos do filme, com cada ator entregando performances que elevam seus personagens além do arquétipo.
Uma Jornada de Descoberta e Consequências

Quarteto Fantástico: Primeiros Passos se destaca por sua abordagem narrativa que, embora respeite as origens dos personagens, ousa explorar novos caminhos. O filme inteligentemente evita a armadilha de recontar a história de origem de forma exaustiva, optando por uma introdução mais concisa e focada nas consequências imediatas da transformação. Essa decisão permite que a trama se aprofunde rapidamente nos dilemas pessoais e coletivos que surgem com a aquisição de poderes extraordinários.
A virtude central da narrativa reside na sua capacidade de humanizar os heróis. Longe de serem figuras unidimensionais, Reed, Sue, Johnny e Ben são apresentados com suas falhas, medos e aspirações. A exploração do tema do poder é particularmente bem executada. Não é apenas a capacidade de manipular a matéria ou voar, mas o peso da responsabilidade que acompanha essas habilidades. O filme questiona a moralidade do uso do poder, especialmente quando ele afeta a vida de inocentes ou quando as decisões tomadas em nome do bem maior têm repercussões imprevistas. A tensão entre a tradição científica de Reed e a modernidade de seus poderes, que desafiam as leis conhecidas da física, é um motor narrativo fascinante.
Um dos pontos fortes é a forma como o filme aborda a dinâmica familiar. O Quarteto não é apenas uma equipe de super-heróis; é uma família disfuncional que precisa aprender a coexistir e a usar suas diferenças como força. Os conflitos internos, as discussões e os momentos de apoio mútuo são retratados com autenticidade, evitando o melodrama excessivo. A narrativa explora a ideia de que, mesmo com poderes cósmicos, os laços humanos são o que realmente os define e os mantém unidos.
No entanto, a narrativa não está isenta de defeitos. Em alguns momentos, o ritmo pode parecer um pouco acelerado, especialmente na transição entre a descoberta dos poderes e a aceitação de seus novos papéis. Certas subtramas, embora interessantes, poderiam ter sido mais desenvolvidas para aprofundar ainda mais o impacto emocional. Por exemplo, a introdução de Galactus, embora visualmente impressionante, poderia ter se beneficiado de uma construção mais gradual de sua ameaça, permitindo que o público sentisse o peso de sua chegada de forma mais intensa. Além disso, a resolução de alguns conflitos, embora satisfatória, por vezes parece um pouco conveniente, diminuindo ligeiramente a sensação de perigo iminente. Apesar desses pequenos tropeços, a narrativa geral é coesa e envolvente, mantendo o espectador investido na jornada dos personagens.
A Estética de um Novo Começo

A direção de Matt Shakman em Quarteto Fantástico: Primeiros Passos é um dos pilares que sustentam a ambição do filme. Shakman demonstra uma compreensão notável do material-fonte, traduzindo a essência dos quadrinhos para a tela grande com uma visão que é ao mesmo tempo respeitosa e inovadora. Sua abordagem é menos focada na grandiosidade espetacular e mais na intimidade dos personagens e no impacto de suas transformações. Há uma sensibilidade na forma como ele lida com os momentos dramáticos, permitindo que as emoções dos personagens respirem e se desenvolvam organicamente.
A cinematografia é um espetáculo à parte. O filme adota uma estética visual que remete aos anos 60, mas com um toque futurista que o torna único. As cores são vibrantes, mas não saturadas, criando uma paleta que é ao mesmo tempo nostálgica e moderna. A forma como os poderes são visualizados é particularmente impressionante; a elasticidade de Reed, a invisibilidade de Sue, as chamas de Johnny e a rocha de Ben são apresentadas de maneiras que parecem frescas e visualmente impactantes, sem recorrer a excessos de CGI que poderiam desviar a atenção da narrativa. Há um cuidado especial na iluminação, que realça as texturas e os detalhes, especialmente nas cenas que envolvem os poderes do Coisa, conferindo-lhe uma presença tátil e imponente.
Um dos acertos da direção é a forma como Shakman utiliza o espaço. As cenas de ação são coreografadas com clareza, permitindo que o espectador acompanhe cada movimento e cada impacto. No entanto, o filme também se destaca nas cenas mais contidas, onde a tensão é construída através de closes e de um uso inteligente da profundidade de campo, que isola os personagens em seus momentos de vulnerabilidade. A transição entre os ambientes, desde o laboratório científico até os confins do espaço, é fluida e imersiva, transportando o público para dentro do universo do Quarteto Fantástico.
Contudo, em alguns momentos, a direção pode parecer um pouco contida, especialmente nas sequências de ação de grande escala. Embora a intenção seja focar nos personagens, algumas batalhas poderiam ter se beneficiado de uma escala um pouco maior para transmitir a magnitude da ameaça. A câmera, por vezes, se mantém em um plano mais seguro, evitando riscos visuais que poderiam ter elevado ainda mais a experiência. Apesar disso, a visão de Shakman é clara e consistente, resultando em um filme visualmente coeso e artisticamente ambicioso.
O Renascimento de uma Lenda
Quarteto Fantástico: Primeiros Passos é, sem dúvida, um marco para a franquia e para o gênero de super-heróis. O filme consegue a proeza de honrar o legado de seus personagens, ao mesmo tempo em que os reinventa para uma nova geração. A direção de Matt Shakman, aliada a um elenco inspiradíssimo, entrega uma obra que é mais do que a soma de suas partes. É uma história sobre família, sobre as escolhas que fazemos quando confrontados com o extraordinário e sobre a constante busca por um lugar no universo.
As virtudes do filme superam em muito seus pequenos deslizes. A profundidade dos personagens, a química inegável entre o elenco e a abordagem visualmente deslumbrante criam uma experiência cinematográfica que ressoa muito depois que os créditos sobem. O filme não se limita a explosões e combates; ele se aprofunda na psique de seus heróis, explorando o que significa ser humano (ou super-humano) em face de desafios cósmicos. A temática da moralidade do poder e da tensão entre o tradicional e o moderno é tecida de forma inteligente na trama, elevando o filme para além de um mero entretenimento.
Em suma, Quarteto Fantástico: Primeiros Passos é um triunfo. É o filme que os fãs esperavam e que a Primeira Família da Marvel merecia. Ele estabelece uma base sólida para futuras aventuras, deixando o público ansioso para ver o que o futuro reserva para Reed, Sue, Johnny e Ben. É uma prova de que, com a visão certa e o respeito pelo material-fonte, é possível criar algo verdadeiramente mágico e impactante.
Nota do IMDb: 8.5/10
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