Em um universo onde a linha entre herói e vilão é tão tênue quanto a sanidade de seus protagonistas, a segunda temporada de Pacificador (2025) da HBO Max mergulha ainda mais fundo na psique conturbada de Christopher Smith. Prepare-se para uma jornada explosiva e inesperadamente introspectiva, onde a busca pela paz se choca com as realidades brutais de um multiverso em colapso e a persistência de fantasmas do passado.
O Retorno do Anti-Herói e a Expansão do Caos

A segunda temporada de Pacificador retoma a narrativa com Christopher Smith (John Cena) tentando se reajustar a um mundo que ele jurou proteger, mas que insiste em desafiar suas convicções mais arraigadas. A grande sacada desta temporada é a introdução de um conceito de multiverso, que não apenas expande as possibilidades narrativas, mas também serve como um espelho distorcido para o próprio Pacificador. A ideia de um “mundo alternativo onde a vida é tudo o que ele desejaria” é um motor poderoso para a exploração de seus dilemas morais e seu desejo inerente por redenção, mesmo que ele não saiba como alcançá-la.
Um dos pontos altos da narrativa é a forma como a série lida com as consequências das ações de Christopher na primeira temporada e no filme O Esquadrão Suicida. A caçada implacável de Rick Flagg Sr. (Frank Grillo) por vingança pela morte de seu filho, Rick Flagg Jr., adiciona uma camada de tensão pessoal e dramática que eleva o enredo para além da mera comédia de ação. Essa subtrama funciona como um lembrete constante de que, por trás da fachada de piadas e violência gratuita, há um homem lidando com o peso de suas escolhas e um legado familiar complexo.
No entanto, a narrativa não está isenta de tropeços. Em alguns momentos, a exploração do multiverso parece um tanto dispersa, ameaçando diluir o foco principal na jornada de Christopher. Embora a intenção de conectar a série ao novo Universo DC de James Gunn seja clara, a transição nem sempre é suave, e certas subtramas podem parecer apressadas ou subdesenvolvidas em função dessa expansão. O final da temporada, em particular, gerou discussões, com alguns críticos apontando que ele deixou pontas soltas demais, talvez em uma tentativa de preparar o terreno para futuras produções, mas sacrificando um fechamento mais satisfatório para esta temporada específica.
Elenco e Atuações: A Força do Conjunto

O elenco de Pacificador continua sendo um dos pilares da série, com performances que equilibram com maestria o humor ácido, a ação desenfreada e momentos de genuína vulnerabilidade. John Cena como Christopher Smith/Pacificador entrega uma atuação ainda mais matizada nesta temporada. Ele aprofunda a complexidade do personagem, mostrando um Pacificador que, apesar de suas falhas e sua persona de “durão”, anseia por aceitação e um propósito maior. Sua capacidade de transitar entre a comédia física e o drama emocional é notável, solidificando-o como o coração da série.
Danielle Brooks retorna como Leota Adebayo, e sua performance continua a ser um contraponto essencial para Christopher. A dinâmica entre os dois é um dos pontos mais fortes, com Adebayo atuando como a bússola moral e, por vezes, a voz da razão em meio ao caos. Sua jornada de autodescoberta e sua luta para conciliar seus ideais com as realidades do mundo dos super-heróis são convincentes.
Freddie Stroma como Adrian Chase/Vigilante é, mais uma vez, o alívio cômico perfeito, com sua devoção psicótica e, por vezes, perturbadora ao Pacificador. Stroma consegue tornar um personagem potencialmente unidimensional em algo hilário e, surpreendentemente, até um pouco tocante em seus momentos de lealdade equivocada. A adição de Frank Grillo como Rick Flagg Sr. é um acerto, trazendo uma presença imponente e uma motivação clara que impulsiona grande parte do conflito da temporada. Sua atuação confere a Flagg Sr. uma gravidade e uma dor palpáveis, tornando-o um antagonista compreensível, ainda que perigoso.
O restante do elenco, incluindo Jennifer Holland como Emilia Harcourt e Steve Agee como John Economos, continua a fornecer um suporte sólido, com seus personagens crescendo e se adaptando às novas ameaças e dinâmicas do grupo. A química entre todos os membros da equipe é inegável, e é essa camaradagem disfuncional que realmente faz a série brilhar.
Direção e Produção: Um Espetáculo Visceral

A direção de James Gunn e sua equipe mantém o estilo visual e narrativo que se tornou a marca registrada de Pacificador: vibrante, violento e com um senso de humor peculiar. A série não tem medo de abraçar o absurdo, e isso se reflete na produção. As sequências de ação são coreografadas com criatividade, misturando brutalidade com um toque de comédia pastelão, algo que Gunn domina com maestria. A fotografia é nítida e colorida, destacando tanto os cenários mais sombrios quanto os momentos mais extravagantes.
Um dos grandes méritos da produção é a trilha sonora, que continua a ser uma personagem à parte. Com uma seleção impecável de rock clássico e hair metal, a música não apenas pontua as cenas, mas muitas vezes as define, adicionando uma camada extra de energia e personalidade. Os efeitos visuais, embora não sejam sempre de ponta, são eficazes e servem bem à proposta da série, especialmente nas representações das ameaças multiversais e nas cenas de combate.
No entanto, a produção por vezes se inclina para o excesso, o que pode ser tanto uma virtude quanto um defeito. A violência gráfica, embora intencional e parte da identidade da série, pode ser exaustiva para alguns espectadores. Além disso, a dependência de certas piadas e gags visuais que já foram exploradas na primeira temporada pode dar uma sensação de repetição em alguns momentos, embora a originalidade geral da série compense esses pequenos deslizes.
Contexto Temático: Moralidade, Legado e Redenção

A segunda temporada de Pacificador aprofunda os temas que já eram presentes na primeira, mas com uma nova urgência. A moralidade continua sendo o cerne da discussão. Christopher Smith, em sua busca distorcida pela paz, é constantemente confrontado com as consequências de suas ações e a ambiguidade de suas crenças. A série questiona o que realmente significa ser um herói e se os fins justificam os meios, especialmente quando os meios são tão violentos e questionáveis.
O tema do legado também é proeminente, tanto através da sombra de seu pai, August Smith, quanto da figura de Rick Flagg Sr.. Christopher luta para se libertar das expectativas e do peso de seu passado, enquanto Rick Flagg Sr. busca honrar a memória de seu filho. Essa dualidade cria um rico terreno para a exploração de como as gerações são moldadas por seus antecessores e como é difícil quebrar ciclos de violência e ódio.
A redenção é o arco central do Pacificador. Apesar de suas falhas, ele demonstra um desejo genuíno de ser uma pessoa melhor, de fazer a diferença. A série não oferece respostas fáceis, mas sim uma jornada tortuosa e muitas vezes dolorosa em direção a um tipo de heroísmo que é imperfeito, mas autêntico. A exploração de um “mundo alternativo” onde ele poderia ter tido uma vida diferente serve como um catalisador para ele confrontar quem ele é e quem ele deseja ser no seu próprio universo.
Uma Jornada Imperfeita, mas Cativante
A segunda temporada de Pacificador é uma continuação digna e, em muitos aspectos, uma evolução da série original. Embora possa tropeçar ocasionalmente em sua ambição narrativa e em um final que deixa mais perguntas do que respostas, ela compensa com atuações carismáticas, um humor irreverente e uma exploração temática surpreendentemente profunda. É uma série que não tem medo de ser barulhenta, sangrenta e, acima de tudo, humana em sua representação de um anti-herói tentando encontrar seu lugar em um mundo insano. Para os fãs da primeira temporada e do estilo de James Gunn, é um prato cheio de ação, risadas e momentos que provocam reflexão.
Nota do IMDb: 7.9/10
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