Quando O Telefone Preto original chegou aos cinemas, ele trouxe consigo uma lufada de ar fresco ao gênero de terror. Com uma premissa sombria, atuações viscerais e uma atmosfera de suspense palpável, o filme de Scott Derrickson conseguiu cativar tanto a crítica quanto o público. A expectativa para uma sequência era, portanto, naturalmente alta. Infelizmente, O Telefone Preto 2, lançado em 2025, não apenas falha em replicar o sucesso de seu antecessor, mas o faz de uma maneira tão espetacularmente decepcionante que o posiciona, sem sombra de dúvidas, como o ponto mais baixo da franquia. O que antes era um terror psicológico bem construído, com toques sobrenaturais que serviam à narrativa, transforma-se aqui em um amontoado de clichês e oportunidades perdidas, diluindo completamente a essência que tornava o primeiro filme tão impactante, mais parecendo um A Hora do Pesadelo da Shopee.
O Vazio Narrativo e a Perda de Identidade
A narrativa de O Telefone Preto 2 tropeça desde os primeiros minutos, lutando para encontrar um propósito que justifique sua existência. A história retoma a vida de Finney Shaw (Mason Thames), agora um adolescente que tenta lidar com o trauma de seu sequestro e o legado do Grabber. A premissa de explorar as consequências psicológicas de eventos tão horríveis é válida, mas o roteiro de Derrickson e C. Robert Cargill opta por um caminho tortuoso e sem foco. Em vez de aprofundar a complexidade emocional de Finney ou Gwen (Madeleine McGraw), o filme se perde em subtramas desinteressantes e um retorno forçado do Grabber (Ethan Hawke) que desvirtua completamente a ambiguidade e o terror psicológico que o personagem representava. A introdução de novos elementos sobrenaturais parece mais uma tentativa desesperada de inovar do que uma evolução orgânica da mitologia, resultando em uma colcha de retalhos de ideias mal desenvolvidas que não se conectam de forma coesa.
Um dos maiores defeitos da narrativa é a sua incapacidade de sustentar o suspense. O primeiro filme se destacava pela tensão crescente e pela sensação de claustrofobia, onde o perigo era iminente e real. Aqui, a ameaça é diluída por uma série de eventos previsíveis e sustos baratos que não conseguem evocar o mesmo nível de pavor. A exploração do pós-trauma de Finney, que poderia ser um ponto forte, é superficial, transformando-o em um mero coadjuvante em sua própria história. A subtrama envolvendo Gwen e suas visões, que no filme original era um elemento intrigante, torna-se repetitiva e menos impactante, com as chamadas do telefone preto perdendo seu mistério e urgência. A tentativa de expandir o universo do Grabber e sua influência para além da morte, embora ambiciosa, é executada de forma desajeitada, transformando um vilão icônico em uma sombra caricata de seu antigo eu.
Elenco e Atuações: Desperdício de Talento
O elenco de O Telefone Preto 2 é, sem dúvida, um dos poucos pontos positivos, mas mesmo assim, suas atuações são prejudicadas por um material fraco. Mason Thames como Finney e Madeleine McGraw como Gwen retornam aos seus papéis com a mesma dedicação e intensidade que demonstraram no primeiro filme. Thames consegue transmitir a angústia e a fragilidade de um jovem marcado pelo passado, enquanto McGraw continua a ser a força motriz de resiliência e determinação. No entanto, o roteiro não lhes oferece o espaço necessário para aprofundar seus personagens, limitando-os a reações emocionais previsíveis e diálogos pouco inspirados. É um desperdício ver o potencial desses jovens atores serem subutilizados em uma trama tão rasa.
Ethan Hawke como o Grabber, que foi o grande destaque do filme original, aqui tem uma presença mais etérea e menos ameaçadora. Sua performance, embora ainda carregada de uma aura sinistra, é ofuscada pela forma como o personagem é retratado. O mistério que o envolvia se dissipa, e ele se torna um vilão mais convencional, perdendo a complexidade e a imprevisibilidade que o tornaram tão memorável. A decisão de trazê-lo de volta de uma forma que desvaloriza sua conclusão no primeiro filme é um erro crasso. Outros membros do elenco, como Jeremy Davies como Terrence e Miguel Mora como Ernesto, entregam performances competentes, mas seus personagens são tão mal desenvolvidos que acabam sendo esquecidos rapidamente. A adição de Demián Bichir como Armando, que poderia ter trazido uma nova dinâmica, é igualmente subaproveitada, com seu personagem servindo apenas como um dispositivo de enredo conveniente.
Direção e Fotografia: Brilho Ausente
A direção de Scott Derrickson, que no filme original demonstrou um domínio impressionante do suspense e da atmosfera, parece ter se perdido em O Telefone Preto 2. A visão cinematográfica que antes era tão nítida e eficaz, agora se mostra inconsistente. Há momentos em que a direção tenta recapturar a essência do primeiro filme, com tomadas escuras e claustrofóbicas, mas esses momentos são poucos e espaçados. A fotografia, que no original usava tons dessaturados para criar um ambiente opressor, aqui é mais genérica, falhando em estabelecer uma identidade visual marcante. A paleta de cores é mais convencional, e a iluminação, que antes era uma ferramenta poderosa para gerar medo, agora serve apenas para iluminar as cenas. A montagem, por sua vez, é errática, com cortes que quebram o ritmo e impedem o desenvolvimento da tensão. O filme carece de um senso de urgência e propósito, resultando em uma experiência visualmente desinteressante e emocionalmente plana.
Contexto Temático: Da Profundidade à Superficialidade
O primeiro O Telefone Preto explorava temas profundos como poder, trauma, resiliência e a luta entre o bem e o mal, com uma nuance que permitia múltiplas interpretações. A sequência tenta revisitar esses temas, mas o faz de maneira superficial e didática. O tema do poder, antes representado pela figura opressora do Grabber e pela impotência das crianças, agora é diluído pela sua ressurreição sobrenatural, que enfraquece a ideia de que o poder pode ser superado pela união e coragem. A moralidade, que no original era testada pelas escolhas de Finney e Gwen em face do perigo, aqui se torna uma dicotomia simplista entre o bem absoluto e o mal absoluto, sem espaço para as complexidades da natureza humana. A tradição versus modernidade, que poderia ser explorada através da persistência do mal em diferentes épocas, é apenas tangenciada, sem um aprofundamento significativo.
O filme tenta, de forma desajeitada, abordar a aceitação da morte e do luto, mas a mensagem se perde em meio à confusão narrativa. A ideia de que Finney e Gwen precisam aceitar o passado e seguir em frente com suas vidas, mesmo com as cicatrizes, é um conceito poderoso. No entanto, a forma como o filme lida com o retorno do Grabber e a persistência do telefone preto impede que essa aceitação seja verdadeiramente alcançada. Em vez de permitir que os personagens encontrem paz e encerramento, o filme os arrasta de volta para um ciclo de medo e confronto, negando qualquer progresso emocional que poderia ter sido construído. O que resta é uma exploração temática rasa, que não consegue honrar a profundidade de seu antecessor.
O Toque Final do Desencanto
O Telefone Preto 2 é, em última análise, um filme que não precisava existir. Ele pega uma história bem contada e a estende de forma desnecessária, diluindo seu impacto e manchando seu legado. O que era um terror inteligente e envolvente, transforma-se em uma experiência genérica e esquecível. O final do filme, que tenta amarrar as pontas soltas e oferecer um encerramento, é tão anticlimático quanto o resto da trama. A mensagem subliminar da aceitação da morte, que poderia ter sido o cerne emocional da sequência, é sacrificada em prol de um espetáculo de terror que falha em aterrorizar. Finney e Gwen, que deveriam ter encontrado a paz, são deixados em um limbo de trauma contínuo, e o público, em um limbo de insatisfação. É uma pena que um filme com tanto potencial tenha se perdido em sua própria ambição, entregando uma sequência que é, tristemente, o pior capítulo da saga.
Nota do IMDb: 6.6/10
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