Imagine um mundo onde a tecnologia não liberta, mas aprisiona. Onde corpos são descartáveis, memórias são hackeadas e megacorporações governam sobre cidades iluminadas por néon e desigualdade. Bem-vindo ao cyberpunk – o gênero que transformou nosso medo do futuro em um espelho brutal do presente. Nas últimas décadas, séries televisivas exploraram essa estética com uma intensidade que vai além do entretenimento: elas são diagnósticos sociopolíticos disfarçados de ficção científica. Prepare-se para mergulhar em 10 distopias que questionam o que nos torna humanos em eras de inteligência artificial e capitalismo desenfreado.
1. Altered Carbon (2018–2020)

Num futuro onde a consciência humana é transferível entre corpos (“sleeves”), o guerreiro Takeshi Kovacs é ressuscitado após 250 anos para resolver o assassinato de um bilionário imortal. A trama mergulha em temas como desigualdade social, identidade e ética tecnológica.
Destaque: A cena do “Hotel Raven” – um AI cyberpunk que personifica Edgar Allan Poe – combina noir clássico com inovação visual. A direção de arte, inspirada em Blade Runner e Ghost in the Shell, cria uma metrópole verticalizada onde luxo e decadência coexistem.
Nota IMDb: 7.9/10
2. Cyberpunk: Edgerunners (2022)

Em Night City, David Martinez implanta um implante militar ilegal após uma tragédia familiar e se junta a mercenários (“edgerunners”). A série, derivada do jogo Cyberpunk 2077, explora vício tecnológico e sonhos corroídos pelo capitalismo.
Destaque: A sequência de abertura, sincronizada com “This Fire” da banda Franz Ferdinand, sintetiza o caos da cidade em 2 minutos. A animação do estúdio Trigger (Kill la Kill) usa cores neon e violência estilizada para criticar a obsolescência humana.
Nota IMDb: 8.3/10
3. Ghost in the Shell: Stand Alone Complex (2002–2005)

Major Motoko Kusanagi lidera uma unidade anti-terrorismo em um Japão cybernetizado, confrontando hackers, IA e conspirações estatais. A série expande o universo cyberpunk do filme clássico de 1995.
Destaque: O episódio “A Cidade Robotizada” – onde corpos são controlados remotamente – antecipa debates sobre autonomia corporal e vigilância. A trilha sonora de Yoko Kanno mistura jazz eletrônico com corais sacros.
Nota IMDb: 8.8/10
4. Black Mirror (2011–presente)

Episódios independentes exploram efeitos perversos da tecnologia. “USS Callister” e “Striking Vipers” são cyberpunk puro: realidade virtual, identidades digitais e distopias corporativas.
Destaque: “San Junipero” (vencedor do Emmy) usa uma praia virtual dos anos 80 para discutir imortalidade digital. O contraste entre nostalgia e horror tecnológico é perturbadoramente belo.
Nota IMDb: 8.8/10
5. Mr. Robot (2015–2019)

Elliot Alderson, hacker com transtorno dissociativo, trama derrubar a megacorporação E Corp. A série mistura “hacktivismo”, conspirações e crítica ao neoliberalismo.
Destaque: O plano de Elliot para “apagar dívidas globais” no episódio final da temporada 1. Cenas de hacking são mostradas com precisão técnica rara, enquanto a fotografia desfocada reflete sua instabilidade mental.
Nota IMDb: 8.6/10
6. Love, Death + Robots (2019–presente)

Antologia animada onde episódios como “Sonic no Além” e “Caçador de Androides” encapsulam cyberpunk em miniatura: IA assassinas, corpos modificados e futuros claustrofóbicos.
Destaque: “Boa Caçada” – uma fábula steampunk/cyberpunk sobre criaturas míticas em Hong Kong pós-colonial. A animação 3D imita aquarelas chinesas, fundindo tradição e futurismo.
Nota IMDb: 8.4/10
7. Psycho-Pass (2012–2019)

Em Tóquio, o sistema Sibyl prevê crimes usando dados cerebrais. Inspetores perseguem “latentes” (potenciais criminosos) em uma sociedade onde emoções são criminalizadas.
Destaque: A arma “Dominator” – que decide sentenças de morte baseada em algoritmos – simboliza a tirania da “objetividade” tecnológica. A estética Blade Runner é atualizada com questionamentos sobre livre-arbítrio.
Nota IMDb: 8.3/10
8. The Animatrix (2003)

Coletânea de curtas animados que expandem o universo de Matrix. “O Segundo Renascimento” mostra a guerra homem-máquina que originou o sistema.
Destaque: “Além”, dirigido por Koji Morimoto (Akira), onde crianças descobrem um prédio assombrado por anomalias físicas. A animação 2D tradicional contrasta com o CGI do filme original.
Nota IMDb: 7.4/10
9. Cyber City Oedo 808 (1990–1991)

Em 2808, três criminosos perigosos são recrutados à força pela polícia cibernética de Oedo para combater crimes high-tech. Em troca de redução de pena, enfrentam hackers, mutantes e ameaças corporativas, usando implantes futuristas — mas sob a ameaça de colares explosivos que os controlam.
Destaque: A abertura punk-industrial, combinada com a violência gráfica e design retrofuturista dos anos 90, cria uma atmosfera crua. Os episódios exploram dilemas éticos como liberdade versus controle estatal, com sequências de ação inspiradas em cinema noir.
Nota IMDb: 7.5/10
10. Blade Runner: Black Lotus (2021–2022)

Spin-off animado dos filmes, segue Elle, uma replicante com memórias apagadas, em Los Angeles 2032. A trama conecta Blade Runner 2049 ao original.
Destaque: A luta de espadas no episódio 7, coreografada como anime com influências de film noir. A chuva perpétua e prédios gigantescos homenageiam a fotografia de Jordan Cronenweth.
Nota IMDb: 6.2/10
Quando a Ficção Nos Alcança
O cyberpunk nunca foi apenas sobre futuro. Como aponta a filósofa Marina Garcés, ele expressa nossa “condição póstuma”: a sensação de que vivemos após o colapso ético da tecnologia prometida como salvação. Séries como Altered Carbon e Edgerunners nos forçam a confrontar perguntas incômodas: Somos mais que nossos dados? Corpos são commodities? Em tempos de deepfakes, IA generativa e vigilância biométrica, o gênero tornou-se um manual de sobrevivência. Seus protagonistas marginais – hackers, androides, desiludidos – nos lembram que rebelião ainda é possível quando sistemas nos desumanizam.
E você? Qual dessas distopias ressoa como alerta – e qual você teme que já seja realidade? Compartilhe suas impressões nos comentários!