Quatro anos após uma primeira temporada que oscilou entre o prestigioso e o ridículo, Nove Desconhecidos chega ao fim de sua 2ª temporada com uma proposta mais ousada e menos pretensiosa. A segunda temporada (2025), disponível no Prime Video, transporta Masha (Nicole Kidman) para um luxuoso retiro nos Alpes Austríacos, onde novos “estranhos” enfrentam terapias alucinógenas e revelam conexões obscuras. Apesar do elenco estelar e de uma direção visualmente hipnótica, a narrativa tropeça na repetição de fórmulas e na falta da tensão psicológica que sustentava o original.
Brilho Individual, Química Frágil

Nicole Kidman como Masha continua a ser o motor da série. Com um sotaque leste-europeu flutuante e um carisma gélido, ela parodia gurus de autoajuda e fraudes do Vale do Silício — inclusive com visual inspirado em Elizabeth Holmes. Sua atuação oscila entre o trágico e o caricatural, especialmente em cenas como um discurso para investidores, onde expõe a impunidade das elites.
Entre os novos convidados do retiro, destaca-se Murray Bartlett (Brian), um apresentador infantil cancelado que conversa com um fantoche. Bartlett equilibra humor e tragédia, criando o personagem mais complexo da temporada. Dolly de Leon (Sister Agnes) traz gravidade religiosa enigmática, enquanto Annie Murphy (Imogen) falha em convencer como herdeira traumática, limitada a reações estereotipadas. Henry Golding (Peter) e Mark Strong (David) cumprem funções narrativas, mas seus conflitos — um magnata de armas e um filho carente — são resolvidos com clichês.
O problema reside na química entre o grupo. Diferente da primeira temporada, onde os personagens colidiam de forma orgânica, aqui as conexões são forçadas por roteiro, como a revelação de que todos foram vítimas de David.
Camp, Sim; Coerência, Não

A temporada acerta ao abraçar o tom camp que a primeira temporada hesitava em assumir. Cenas como Masha posando como uma “gárgula encapuzada” nos jardins do retiro ou Brian discutindo com seu fantoche são deliberadamente absurdas, satirizando a indústria do bem-estar e a cultura do cancelamento. No entanto, a estrutura definha em episódios autônomos que sacrificam o arco central:
– Ep. 1 (“Zauberwald”) constrói tensão atmosférica com planos silenciosos e paisagens deslumbrantes, mas não cumpre suas promessas.
– Ep. 3 (“The Field Trip”) é um marco negativo: sequências lisérgicas sem propósito, diálogos inflamados e ritmo arrastado.
– O final (Ep. 8) tenta surpreender com um tiro, um beijo traiçoeiro e uma chantagem, mas soa como fan service desconectado da trama.
A revelação de que os hóspedes são interligados por David poderia ser instigante, mas vira um tribunal previsível, onde discursos sobre “gerações julgadoras” ou “se importar demais” substituem desenvolvimento genuíno.
Poder, Moralidade e a Fraude da Cura

A temporada amplia sua crítica ao poder corrosivo das elites. Masha, agora uma celebridade fugitiva, comercializa “cura” via dispositivos high-tech financiados pelo Vale do Silício, ecoando casos reais como o da Theranos. David, o vilão arquetípico, simboliza o capitalismo amoral: após ser exposto, finge abandonar o comércio de armas, mas depois chantageia Masha com vídeos comprometedores.
A moralidade ambígua também é central. Terapias com alucinógenos, antes apresentadas como polêmicas porém bem-intencionadas, agora são ferramentas de manipulação. A série questiona: Masha é uma curadora ou outra fraudadora? A resposta fica no limbo, mas o final sugere que sobrevivência e poder se sobrepõem à ética.
Beleza Visual, Ruído Narrativo

A mudança para os Alpes Austríacos é o maior acerto técnico. A direção usa montanhas nevadas e arquitetura gótica para criar um clima de conto de fadas sombrio, reforçado por planos detalhistas (como copos de suco alinhados) e simbolismos pesados (lagos congelados = emoções reprimidas).
No entanto, a trilha sonora de repete o mesmo mood psicodélico da 1ª temporada, e o ritmo editorial acelera em cenas de ação (como o tiro em Masha) sem construir tensão real.
Por Que É Inferior à 1ª Temporada?

A queda não está no conceito, mas na execução:
1. Falta de Mistério: Na 1ª temporada, as drogas eram um segredo perigoso; aqui, são placebos narrativos.
2. Sobrecarga Temática: Crítica social, trauma, redenção e sátira disputam espaço, sem foco.
3. Elenco Subutilizado: Atrizes como Christine Baranski têm papel decorativo.
4. Vícios Repetidos: O “clímax terapêutico” (Ep. 6) copia a estrutura do ano anterior, sem inovar.
Um Retiro Bonito, Porém Vazio
A segunda temporada de Nove Desconhecidos é como um spa de luxo: deslumbrante à primeira vista, mas vazio de substância. Nicole Kidman e Murray Bartlett sustentam cenas com performances carismáticas, e a direção visual transforma os Alpes em um personagem fascinante. No entanto, a narrativa perde-se em delírios estéticos e discursos moralistas rasos, abandonando a tensão psicológica que fazia a força da estreia. A série sobrevive como sátira à indústria do bem-estar, mas falha como drama humano.
Nota IMDb: 6.5/10
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