Monstro: A História de Ed Gein (2025) prometia mergulhar nas profundezas da psique de um dos mais infames assassinos da história americana, um homem cujos atos grotescos inspiraram lendas do cinema de horror. No entanto, o que a Netflix entrega é uma narrativa que, apesar de visualmente impactante, se perde em um labirinto de escolhas questionáveis, diluindo o terror psicológico em um espetáculo de melodrama e oportunidades perdidas. A série, que deveria ser um estudo sombrio sobre a origem do mal, acaba por ser uma experiência frustrante, onde a complexidade do monstro de Plainfield é sacrificada em nome de um roteiro inchado e atuações que beiram o caricato.
Elenco e Atuações: Brilhantismo Ofuscado por Exageros

O elenco de Monstro: A História de Ed Gein é, sem dúvida, um dos seus pontos mais fortes, mas mesmo aqui, a direção parece ter optado por uma abordagem que beira o excesso. Charlie Hunnam como Ed Gein é um exemplo claro dessa dualidade. Hunnam, um ator de inegável talento, entrega uma performance fisicamente transformadora, capturando a estranheza e a reclusão de Gein. Há momentos em que seu olhar vazio e sua postura curvada transmitem a essência perturbadora do personagem. Contudo, a série frequentemente o empurra para um território de tiques e maneirismos que, ao invés de aprofundar a loucura, a tornam quase performática, tirando a sutileza que o papel exigiria. A tentativa de humanizar Gein, ou de explicar sua psicose, muitas vezes se traduz em cenas onde a interpretação de Hunnam parece lutar contra um roteiro que insiste em simplificar o inexplicável.
Laurie Metcalf como Augusta Gein, a mãe dominadora e religiosa de Ed, é outro destaque. Metcalf é uma força da natureza, e sua Augusta é aterrorizante em sua rigidez e manipulação. Ela personifica a raiz de muitos dos tormentos de Ed, e suas cenas são carregadas de uma tensão palpável. No entanto, a série se estende demais na exploração dessa dinâmica, tornando-a repetitiva e, por vezes, beirando o clichê da mãe abusiva. A complexidade da relação é abordada de forma quase didática, perdendo a oportunidade de explorar as nuances psicológicas que tornaram Augusta uma figura tão central na formação de Gein.
Outros membros do elenco, como Suzanna Son como Adeline Watkins e Tom Hollander em um papel coadjuvante, entregam performances competentes, mas são frequentemente subutilizados ou inseridos em subtramas que desviam o foco principal. A presença de Addison Rae em um papel menor, embora breve, é um exemplo de como a série tenta adicionar elementos que parecem mais voltados para o apelo popular do que para a profundidade narrativa, com sua personagem servindo mais como um catalisador para eventos do que como uma figura com peso próprio.
Narrativa e Roteiro: Um Labirinto de Histórias Paralelas

O maior calcanhar de Aquiles de Monstro: A História de Ed Gein reside em sua estrutura narrativa. A série se propõe a contar a história de Ed Gein, mas frequentemente se desvia para uma miríade de histórias paralelas que, embora individualmente possam ter algum mérito, coletivamente diluem o impacto central. Há uma quantidade exagerada de subtramas envolvendo personagens secundários, investigações policiais que parecem arrastadas e dramas pessoais que pouco contribuem para a compreensão da mente de Gein. Essas digressões não apenas incham a duração dos episódios, mas também fragmentam a atenção do espectador, impedindo um mergulho profundo na psique do protagonista.
O roteiro, em sua ânsia de explicar cada faceta da vida de Gein, acaba por simplificar demais. A série parece temer o silêncio e a ambiguidade, preenchendo cada lacuna com diálogos expositivos ou flashbacks que, ao invés de enriquecer, apenas reforçam o que já foi estabelecido. A tentativa de contextualizar os crimes de Gein dentro de um panorama social mais amplo é válida, mas a execução é desajeitada, com a série frequentemente perdendo o ritmo e a tensão em favor de momentos que parecem forçados ou desnecessários. A progressão dos eventos, que deveria ser um crescendo de horror, torna-se uma sucessão de episódios onde o impacto é diluído pela falta de foco.
Direção e Fotografia: Beleza em Meio ao Caos

Visualmente, a série é inegavelmente bem produzida. A direção de arte e a fotografia conseguem criar uma atmosfera sombria e opressiva, evocando a paisagem rural e isolada de Plainfield, Wisconsin. Os tons dessaturados, a iluminação melancólica e os cenários detalhados contribuem para um senso de desolação que permeia a narrativa. Há momentos de grande beleza visual, especialmente nas cenas que exploram a solidão de Gein na fazenda, onde a vastidão do ambiente contrasta com a claustrofobia de sua mente. A série utiliza bem o simbolismo visual, com a casa de Gein se tornando um personagem por si só, um reflexo de sua deterioração mental.
No entanto, mesmo aqui, a direção não está isenta de críticas. Em sua busca por chocar, a série por vezes se entrega a um gore explícito que, ao invés de aterrorizar, parece gratuito. A linha tênue entre o horror psicológico e a exploração sensacionalista é cruzada em diversas ocasiões, diminuindo o impacto emocional das cenas mais perturbadoras. A direção falha em manter um tom consistente, oscilando entre o drama psicológico e o horror explícito, sem conseguir harmonizar esses elementos de forma eficaz.
Contexto Temático: Poder, Moralidade e a Perda da Inocência

Monstro: A História de Ed Gein tenta explorar temas profundos como o poder da influência materna, a fragilidade da moralidade em um ambiente de isolamento e abuso, e a perda da inocência em uma comunidade rural aparentemente pacata. A série sugere que a repressão religiosa e o controle absoluto exercido por Augusta sobre Ed foram os catalisadores para sua descida à loucura. A dicotomia entre o bem e o mal, a fé e a depravação, é constantemente explorada, mas de uma forma que, novamente, carece de sutileza.
O tema da moralidade é abordado de maneira superficial, com a série apresentando os eventos de forma quase expositiva, sem permitir que o espectador tire suas próprias conclusões sobre a complexidade moral dos personagens e de suas ações. A oportunidade de explorar a natureza do mal, não apenas como um fenômeno individual, mas como um produto de um ambiente e de uma sociedade, é perdida em favor de uma narrativa mais direta e menos provocativa. A série se contenta em mostrar os eventos, mas raramente aprofunda as questões filosóficas que eles levantam.
Um Monstro Diluído
Monstro: A História de Ed Gein (2025) é uma série que, apesar de seu potencial e de algumas performances notáveis, falha em entregar a profundidade e o terror psicológico que a história de Ed Gein merecia. A quantidade exagerada de histórias paralelas, as interpretações que por vezes beiram o caricato e a falta de foco narrativo transformam o que poderia ser um estudo perturbador em uma experiência arrastada e, em última instância, decepcionante. A série é um lembrete de que nem todo horror precisa ser explícito para ser eficaz, e que a verdadeira monstruosidade muitas vezes reside nas sombras da mente humana, não na grandiosidade do espetáculo.
Nota IMDb: 6.5/10
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