Lobisomem (2025): Um Retorno Sombrio e Intenso ao Clássico do Terror


Desde que o gênero de terror começou a explorar os medos mais profundos da humanidade, poucas criaturas conseguiram capturar nossa imaginação como o lobisomem. Em Lobisomem (2025), dirigido por Leigh Whannell (Upgrade, O Homem Invisível), temos uma releitura moderna e visceral do clássico de 1941, com um elenco liderado por Christopher Abbott e Julia Garner. O filme promete ser uma experiência intensa e emocionalmente carregada, mas também traz consigo algumas falhas que impedem que alcance o status de obra-prima absoluta.


A História: Uma Jornada de Medo e Transformação

O filme nos apresenta Blake Lovell (Christopher Abbott), um homem atormentado por traumas do passado que retorna à sua casa na floresta após anos de ausência. Ele busca refúgio ao lado de sua esposa, Charlotte Lovell (Julia Garner), e sua filha pequena, Ginger (Matilda Firth). A família tenta se reconectar em meio à tranquilidade aparente das árvores e neblinas densas. No entanto, essa paz é rapidamente interrompida quando eventos estranhos e violentos acontecem na chegada deles, com uma maldição ancestral que assombra a região, escolhendo Blake como seu próximo hospedeiro.

Ginger, interpretada pela jovem Matilda Firth, torna-se um ponto central na narrativa. Sua inocência contrasta com o horror crescente ao redor, e ela serve como um lembrete constante do que está em jogo para Blake e Charlotte. Enquanto o casal luta para proteger sua filha, as transformações físicas e psicológicas de Blake colocam toda a família em perigo. A relação entre pai e filha é particularmente tocante, adicionando camadas emocionais à história.

A narrativa é construída de forma gradual, com diálogos introspectivos e momentos de silêncio que permitem ao público mergulhar profundamente no estado mental dos personagens. No entanto, o roteiro tropeça em alguns pontos ao explicar a origem da maldição. Certas reviravoltas são previsíveis, e a mitologia do lobisomem poderia ter sido desenvolvida de maneira mais sutil para manter o mistério até o final.


Direção e Estética: Uma Obra Visualmente Impressionante

Leigh Whannell demonstra novamente sua habilidade em criar atmosferas opressivas e visualmente deslumbrantes. As filmagens ocorreram principalmente em locações remotas no Oregon, e cada plano parece imersivo, com tons sombrios de verde, cinza e azul que evocam uma sensação constante de melancolia e perigo. A direção de fotografia é primorosa, utilizando luz natural e sombras marcantes para criar um contraste dramático entre o mundo civilizado e o selvagem.

Os momentos de transformação são particularmente impressionantes. Whannell optou por combinar efeitos práticos e digitais, resultando em cenas que lembram os trabalhos clássicos de Rick Baker. A metamorfose de Blake é agonizante e visceral, transmitindo toda a dor e desespero de alguém que perde o controle sobre seu corpo e mente. Esses momentos são tão brutais quanto cativantes, provando que o horror físico ainda tem espaço no cinema moderno.

No entanto, nem tudo é perfeito no departamento visual. Alguns efeitos especiais, especialmente nas sequências de ação mais intensas, ocasionalmente caem na armadilha do excesso. Há momentos em que o uso de CGI fica evidente, tirando um pouco da imersão. Além disso, a insistência em planos longos e contemplativos pode cansar espectadores que esperam um ritmo mais dinâmico.


Elenco: Performances Poderosas, Mas Nem Tudo Brilha

Christopher Abbott entrega uma das atuações mais marcantes de sua carreira. Ele consegue transmitir vulnerabilidade e força simultaneamente, capturando a complexidade de um homem dividido entre sua humanidade e sua bestialidade. Seus olhos expressivos dizem mais do que qualquer linha de diálogo, e há momentos em que sua performance silenciosa é suficiente para prender completamente a atenção do espectador.

Julia Garner, por outro lado, rouba todas as cenas em que aparece. Sua Charlotte é inteligente, resiliente e profundamente empática, servindo como o coração moral do filme. A química entre ela e Abbott é palpável, adicionando nuances à relação entre os dois personagens que vão além do romance convencional. Há algo quase platônico em sua conexão, como se ambos reconhecessem no outro a mesma luta contra demônios interiores.

Matilda Firth, no papel de Ginger, entrega uma performance notável para uma atriz tão jovem. Ela consegue transmitir tanto inocência quanto medo, tornando-se o ponto emocional mais frágil e importante da história. Sua presença na tela adiciona peso às decisões de Blake e Charlotte, reforçando o impacto das escolhas feitas pelos adultos ao redor dela.

No entanto, nem todos os membros do elenco têm o mesmo destaque. Sam Jaeger, interpretando o pai do protagonista, entrega uma atuação competente, mas seu personagem nunca recebe o desenvolvimento necessário para justificar sua presença central na trama. Além disso, alguns coadjuvantes parecem subutilizados, servindo apenas como dispositivos narrativos para avançar a história.


Temas e Mensagens: Reflexões Profundas, Mas Às Vezes Óbvias

Embora Lobisomem seja, em sua essência, um filme de terror, ele transcende o gênero ao abordar questões universais sobre o que significa ser humano. A maldição do lobisomem funciona aqui como uma metáfora para qualquer tipo de alteridade — seja ela física, emocional ou psicológica. Blake luta para aceitar sua nova realidade, temendo que perder o controle signifique perder sua humanidade. No entanto, o filme sugere que talvez nossa verdadeira essência esteja justamente nas partes de nós que tememos enfrentar.

A relação entre Blake, Charlotte e Ginger também explora temas de cura e redenção. Ambos os pais estão feridos de maneiras diferentes, mas encontram conforto um no outro ao compartilhar suas vulnerabilidades. Isso subverte expectativas típicas de romances em filmes de terror, onde o amor geralmente serve como solução fácil para problemas complexos. Aqui, ele é apresentado como uma via de mão dupla, exigindo sacrifício e compreensão mútua.

Porém, nem todos os temas são tratados com a mesma sutileza. Algumas mensagens sobre aceitação e pertencimento são entregues de maneira didática, quase como se o filme tivesse medo de que o público não entendesse suas intenções. Isso pode soar redundante, especialmente para espectadores mais atentos, que já captaram as ideias subjacentes sem necessidade de explicações explícitas.


Conclusão: Um Filme Imperfeito, Mas Importante

Lobisomem é muito mais do que uma simples adaptação de um clássico do cinema. É uma ode ao poder do gênero de terror de explorar os cantos mais obscuros da alma humana. Com direção primorosa, performances memoráveis e uma narrativa rica em simbolismo, o filme se firma como uma das melhores produções do ano e um marco importante para o subgênero de lobisomens.

Para os fãs de horror, é uma oportunidade única de testemunhar uma releitura respeitosa e inovadora de uma lenda centenária. Para os cinéfilos em geral, é uma prova de que o cinema ainda pode nos surpreender ao combinar técnica apurada com histórias profundamente humanas. Assim como o próprio Blake Talbot, Lobisomem é uma criatura de duas faces: ao mesmo tempo familiar e desconhecida, assustadora e cativante.

No entanto, o filme não está isento de defeitos. Seu ritmo irregular, momentos de CGI questionável e subtramas mal desenvolvidas impedem que ele alcance a perfeição. Ainda assim, suas qualidades superam largamente seus defeitos, tornando-o uma experiência cinematográfica valiosa.

Se você procura um filme que não apenas te faça pular na cadeira, mas também refletir sobre os limites da humanidade, então Lobisomem é obrigatório. Prepare-se para ser arrebatado por uma obra que promete entrar para a história como um dos grandes clássicos modernos do terror — mesmo que com algumas cicatrizes visíveis.

Nota IMDb: 5.7/10

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