Em Karate Kid: Legends, Jonathan Entwistle consegue a proeza de unir dois universos icônicos das artes marciais em uma narrativa que, embora familiar, encontra seu próprio caminho. O filme traz de volta Jackie Chan e Ralph Macchio, mestres de duas gerações diferentes, para treinar um novo protagonista em uma história que equilibra nostalgia e inovação, mas nem sempre acerta todos os golpes que tenta desferir.
Entre Dois Mundos: A Fusão de Legados

A maior virtude de Karate Kid: Legends está na forma como o diretor Jonathan Entwistle consegue unir os universos do karatê e do kung fu em uma narrativa coesa. Pela primeira vez na franquia, vemos a fusão dessas duas artes marciais, representadas pelos icônicos Mr. Han (Jackie Chan) e Daniel LaRusso (Ralph Macchio). A química entre os dois mestres é surpreendentemente natural, especialmente nas cenas de treinamento conjunto, onde cada um traz sua filosofia própria para ajudar o jovem protagonista.
O roteiro de Rob Lieber encontra um equilíbrio interessante ao conectar as histórias anteriores sem depender excessivamente delas. Referências aos filmes originais e à série Cobra Kai aparecem de forma orgânica, como a menção ao Sr. Miyagi e a cena final com Johnny Lawrence, que arranca sorrisos dos fãs sem alienar novos espectadores. No entanto, o filme ocasionalmente tropeça ao tentar servir a muitos mestres, resultando em algumas subtramas que poderiam ter sido mais desenvolvidas.
Novos Talentos, Velhas Lições

Ben Wang entrega uma performance convincente como Li Fong, o novo Karate Kid que carrega o peso do trauma familiar e o desafio de se adaptar a uma nova cultura. Wang consegue transmitir tanto a vulnerabilidade quanto a determinação do personagem, especialmente nas cenas que exploram seu relacionamento com o irmão falecido. Sua jornada de autodescoberta através das artes marciais ecoa os temas clássicos da franquia, mas com nuances contemporâneas.
Jackie Chan retorna ao papel de Mr. Han com a mesma presença carismática, agora com uma profundidade adicional como um mestre respeitado. Suas cenas de ação, embora mais contidas devido à idade, ainda mostram flashes do brilhantismo coreográfico que o consagrou. Ralph Macchio traz maturidade ao papel de Daniel LaRusso, embora sua participação seja mais limitada do que os fãs poderiam desejar.
O elenco de apoio traz performances notáveis, com destaque para Joshua Jackson como Victor Lipani, que traz humor e humanidade ao papel do ex-boxeador italiano. Sadie Stanley como Mia Lipani constrói uma química autêntica com Wang, evitando os clichês do interesse amoroso. Já Aramis Knight como Connor Day entrega um antagonista que, embora previsível em sua trajetória, tem momentos de complexidade que elevam o conflito central.
Coreografia e Contemplação: A Dualidade das Artes Marciais

A direção de Jonathan Entwistle brilha nas sequências de treinamento, que mesclam a filosofia contemplativa do Sr. Miyagi com o dinamismo do kung fu de Mr. Han. A cena do treinamento no terraço com os pombos de Alan (Wyatt Oleff) é visualmente marcante, capturando tanto a beleza quanto a funcionalidade das artes marciais. O diretor também aproveita bem o cenário urbano de Nova York, transformando elementos cotidianos como os torniquetes do metrô em oportunidades de treinamento criativas.
No entanto, as sequências de luta do torneio final carecem da intensidade e originalidade que poderiam ter elevado o clímax do filme. A coreografia, embora competente, não alcança os momentos memoráveis dos filmes anteriores da franquia. A técnica do “chute voador adaptado” é visualmente interessante, mas sua execução no confronto final parece apressada, sem o impacto emocional que deveria ter.
A fotografia do filme merece elogios pela forma como captura tanto a energia vibrante de Nova York quanto os momentos mais introspectivos do protagonista. As transições entre flashbacks da China e o presente são fluidas, ajudando a construir a complexidade psicológica de Li Fong sem interromper o ritmo da narrativa.
Entre Gerações: Temas e Ressonâncias

Karate Kid: Legends explora temas universais como superação, identidade cultural e o peso das expectativas familiares. A relação entre Li e sua mãe médica (Ming-Na Wen) toca em questões de imigração e adaptação cultural com sensibilidade, evitando estereótipos simplistas. O filme também aborda o luto e o trauma de forma madura, mostrando como as artes marciais podem ser um caminho para a cura emocional.
O conflito entre tradição e modernidade permeia toda a narrativa, não apenas nas diferentes abordagens de treinamento, mas também na forma como Li navega entre suas raízes chinesas e sua nova vida americana. Este tema ressoa particularmente bem nas cenas compartilhadas entre Mr. Han e Daniel, onde vemos duas filosofias marciais distintas encontrando pontos de convergência.
A questão da violência versus autodefesa, central à franquia, é revisitada com nuances contemporâneas. O filme não glorifica a violência, mas reconhece sua realidade no mundo moderno, oferecendo uma perspectiva equilibrada sobre quando lutar e quando recuar.
Um Novo Capítulo com Golpes Familiares
Karate Kid: Legends consegue a difícil tarefa de honrar o legado da franquia enquanto abre caminho para uma nova geração. O filme tem falhas – um ritmo ocasionalmente irregular, algumas subtramas subdesenvolvidas e um clímax que poderia ter mais impacto – mas suas virtudes superam seus defeitos. A combinação de nostalgia e inovação, performances sólidas e temas universais resulta em uma adição digna à franquia.
Como um filme que une duas tradições marciais distintas, Karate Kid: Legends nos lembra que, independentemente do estilo, as verdadeiras lições das artes marciais transcendem técnicas específicas. Assim como Li Fong aprende a incorporar tanto o karatê quanto o kung fu em seu próprio estilo, o filme encontra sua identidade na intersecção entre respeito pela tradição e abertura para o novo.
Nota do IMDb: 6.6/10
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