O reboot da franquia jurássica dirigido por Gareth Edwards entrega escala épica e ação hipnótica, mas falha em resgatar o fascínio primordial que definiu o legado de Spielberg. Com sequências visuais que capturam a fúria pré-histórica em planos grandiosos, o filme tropeça na esterilidade emocional e na dependência de fórmulas gastas.
Narrativa Fragmentada: Virtudes e Armadilhas

A premissa promete renovação: cinco anos após os eventos de Dominion, os dinossauros estão confinados a zonas equatoriais, e uma equipe liderada pela mercenária Zora Bennett (Scarlett Johansson) é contratada para extrair DNA de três “alfa” (Mossassauro, Titanossauro e Quetzalcoatlus) visando uma cura para doenças cardíacas. Na prática, porém, o roteiro de David Koepp (Jurassic Park, 1993) repete clichês da saga: corporações gananciosas (encarnadas por Rupert Friend como o vilão cartoonizado Martin Krebs), cientistas ingênuos (Jonathan Bailey como o paleontólogo Dr. Loomis) e criaturas geneticamente modificadas.
Virtudes:
Cenas impressionantes: A sequência do Mossassauro atacando um barco é uma demonstração de força em um suspense aquático, com enquadramentos claustrofóbicos que ecoam Tubarão.
Ritmo acelerado: Edwards prioriza ação sobre exposição, evitando o tédio de Dominion com perseguições aéreas (Quetzalcoatlus) e terrestres (T-Rex em selva fechada).
Defeitos:
Tramas paralelas desconexas: A família naufragada (Manuel Garcia-Rulfo como Reuben, Luna Blaise e Audrina Miranda como suas filhas) serve apenas como “carne para canhão”, sem integrar-se à trama principal.
Lacunas lógicas: Personagens tomam decisões absurdas (ex.: adolescente atravessando um campo sob ataque de T-Rex para recuperar um barco).
Vilão previsível: Krebs grita “Isso vale trilhões!” sem nuance, reduzindo o conflito a capitalismo vs. altruísmo raso.
Quem Sobrevive à Ilha?

Scarlett Johansson como Zora: Entrega físico convincente, mas sua personagem oscila entre mercenária cínica e heroína altruísta sem motivação clara. Falta química com a equipe, tornando-a um ícone vazio de ação.
Mahershala Ali como Duncan: Rouba a cena com presença magnética. Seu passado militar e culpa são transmitidos através de olhares e silêncios, elevando cenas banais como um confronto com Spinosauras.
Jonathan Bailey como Dr. Loomis: O “Alan Grant moderno” é subutilizado. Seu fascínio científico pelos dinossauros vira piada recorrente (ex.: “Eles são perfeitos!” ao ver um Titanossauro), e o romance forçado com Zora falha em engajar.
Manuel Garcia-Rulfo como Reuben: Brilha na trama familiar, trazendo calor humano. Sua relação com as filhas (especialmente Audrina Miranda como Isabella) é tocante, mas sabotada por tempo de tela limitado.
Rupert Friend (Krebs) exagera na vilania, e os coadjuvantes (como Ed Skrein como o segurança Bobby) são descartáveis. O D-Rex, antagonista final, é um híbrido genérico (T-Rex + Alien + Rancor) que simboliza a falta de originalidade da franquia.
Beleza Artificial

Gareth Edwards imprime sua marca:
Escala grandiosa: Planos aéreos mostrando manadas de Titanossauros como pontos em selvas imensas recuperam o estilo spielbergiano.
Tratamento Tubarão 2.0: Cenas subaquáticas com o Mossassauro usam a câmera como “presa”, mergulhando com as vítimas para criar claustrofobia.
Fotografia: Luz natural e sombras profundas conferem atmosfera opressora, especialmente em ruínas de laborações cobertas por vegetação .
Contudo, a edição rápida prioriza choque sobre suspense: ataques de Mutadons (híbridos de raptor/pterossauro) são coreografados como videogame, perdendo a construção metódica de tensão do original. A trilha mescla temas de John Williams com sons novos, mas raramente se destaca na mixagem abafada.
O Vazio Sob os Efeitos

Enquanto Jurassic Park (1993) questionava ética científica e arrogância humana, Recomeço reduz sua mensagem a capitalismo vs. altruísmo:
Krebs representa a “Big Pharma” explorando vida pré-histórica para lucro;
Loomis encarna o cientista “puro”, cujo discurso sobre “curar a humanidade” soa ingênuo.
A família Delgado introduziria um contraponto sobre perda e resiliência (a filha parte para a faculdade), mas vira pano de fundo para perseguições. Até os dinossauros são instrumentalizados: criaturas como o D-Rex são obstáculos, não símbolos de caos ou maravilha.
Fósseis de um Passado Glorioso

Jurassic World: Recomeço é um paradoxo evolutivo: tecnicamente competente, com direção visual ousada e cenas de ação inventivas (o duelo aéreo com Quetzalcoatlus é um marco), mas emocionalmente estéril. Edwards entrega espetáculo, mas falha em replicar o ritmo spielbergiano. O elenco — salvo Mahershala Ali e Manuel Garcia-Rulfo — navega personagens unidimensionais, e a trama fragmentada reflete a crise de identidade da franquia: quer ser Godzilla com DNA de Jurassic Park.
Como recomeço? Vale pela jornada técnica, não pela revolução. Para fãs de ação jurássica, há diversão passageira; para críticos, é mais um passo na fossilização criativa da saga.
Nota IMDb: 5.5/10
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