Em Eletric State (2025), os irmãos Russo tentam reinventar a ficção científica com uma mistura de nostalgia vintage e críticas à tecnologia, mas o resultado é um espetáculo caótico que enterra sua mensagem sob efeitos visuais exagerados. A trama segue Michelle (Millie Bobby Brown), uma jovem em busca do irmão desaparecido em um mundo pós-guerra entre humanos e robôs, acompanhada pelo mercenário cínico Keats (Chris Pratt) e um androide sarcástico (voz de Anthony Mackie). Apesar do orçamento astronômico, o filme tropeça em sua própria ambição, tornando-se uma decepção para quem esperava profundidade.
Brilho em Meio ao Caos

Millie Bobby Brown entrega uma performance sólida como Michelle, equilibrando a fragilidade de uma jovem perdida com a determinação de quem desafia sistemas opressores. Seu olhar vazio em cenas de silêncio, transmite a desumanização causada pela guerra. A atriz, conhecida por papéis que exigem maturidade precoce (Stranger Things), aqui mostra crescimento ao incorporar uma personagem que oscila entre a vulnerabilidade e a coragem, ainda que o roteiro de Eletric State não lhe dê espaço para explorar nuances mais complexas.
Chris Pratt, como o mercenário Keats, abusa do humor pastelão, contrastando com momentos que exigiriam seriedade — uma escolha que oscila entre o carisma e a caricatura. Sua atuação, embora divertida, parece deslocada em um universo que tenta ser sombrio. Já Anthony Mackie, como a voz do androide Herman, oferece uma dublagem competente, mas o personagem é reduzido a piadas fáceis, desperdiçando seu potencial emocional. A dinâmica entre humano e máquina, que poderia ser o coração do filme, torna-se superficial, lembrando O Guia do Mochileiro das Galáxias, mas sem a mesma inventividade.
O elenco secundário inclui Ke Huy Quan (como o Dr. Amherst) e Stanley Tucci (no papel do vilão corporativo Ethan Skate), ambos subutilizados. Quan, que brilhou em Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo, tem seu talento limitado a um papel genérico de “cientista excêntrico”, enquanto Tucci, com sua presença magnética, é reduzido a um vilão unidimensional que mais parece uma paródia do Dr. Robotinik, só que sem o carisma.
Estética vs. Substância

Os irmãos Russo apostam em uma estética retro-futurista deslumbrante para Eletric State: paisagens áridas com veículos obsoletos, cidades em ruínas iluminadas por neon, e robôs com design inspirado nos anos 1980. A fotografia é impecável, com planos abertos que destacam a desolação do mundo pós-guerra e closes que enfatizam a solidão de Michelle. No entanto, a beleza visual parece priorizar a forma em detrimento do conteúdo.
A edição fragmentada, marca registrada dos diretores, acelera o ritmo, mas deixa lacunas na construção emocional dos personagens. Um exemplo é a sequência do “campo de refugiados”, que poderia ser um momento de reflexão sobre a desigualdade, mas é interrompida abruptamente por uma explosão CGI que parece mais uma desculpa para exibir efeitos visuais. A trilha sonora, composta por Alan Silvestri, também é problemática: temas orquestrais épicos contrastam com cenas íntimas, criando uma dissonância que tira o espectador da imersão.
Tecnologia como Espelho

O filme aborda a desconexão humana em uma era dominada por inteligências artificiais, mas seus temas são diluídos em excesso de subtramas. A relação entre Michelle e Skip, por exemplo, promete explorar a empatia entre humanos e máquinas, mas é reduzida a piadas fáceis. Em uma cena, Skip questiona sua própria consciência, mas o diálogo é rapidamente substituído por uma piada sobre “atualizações de software”, desperdiçando uma oportunidade de profundidade.
Já a crítica ao capitalismo tecnocrático, representada pela corporação “Nexus Corp”, é superficial. Ethan Skate, vilão da trama, é uma caricatura de CEO sem escrúpulos, repetindo tipos já vistos em Blade Runner e Matrix, sem inovação. A mensagem final sobre resistência, embora bem-intencionada, é mal desenvolvida: a revolução liderada por Michelle parece mais um deus ex machina do que uma conquista coletiva.
Por fim, Um Futuro que Não se Sustenta
Eletric State é um paradoxo: visualmente deslumbrante, mas narrativamente vazio. Os irmãos Russo, acostumados a blockbusters do MCU, falham ao equilibrar escala e intimidade. Enquanto os efeitos visuais impressionam, a trama se perde em arquétipos genéricos e reviravoltas previsíveis. É uma pena que um filme com tanto potencial, com tema e elenco promissores, se contente em ser apenas mais um produto descartável.
Nota IMDb: 6.5/10
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