Em um mundo onde a graça da dança se entrelaça com a brutalidade da retribuição, Ballerina emerge como um capítulo visceral e eletrizante no aclamado universo de John Wick. Dirigido com pulso firme por Len Wiseman, este filme não é apenas um spin-off, mas uma expansão que aprofunda as raízes da High Table e nos apresenta a uma nova força letal: Eve Macarro.
A Coreografia da Destruição: Narrativa e Atuações

Ballerina se desenrola com uma premissa familiar, mas com uma execução que busca imprimir sua própria marca. A história de Eve Macarro (Ana de Armas), uma assassina treinada nas tradições da Ruska Roma em busca de vingança pela morte de sua família, ressoa com os temas de luto e retribuição que definem a franquia. A narrativa, embora linear, é pontuada por sequências de ação que são o verdadeiro coração do filme. A fluidez das lutas, a precisão dos movimentos e a brutalidade coreografada são um testemunho do legado de John Wick, elevando o patamar do que se espera de um filme de ação.
Ana de Armas entrega uma performance fisicamente exigente e emocionalmente complexa como Eve. Sua capacidade de transitar entre a vulnerabilidade e a letalidade é notável, conferindo à personagem uma profundidade que a distingue de outros protagonistas de ação. Há momentos em que a intensidade de seu olhar e a precisão de seus movimentos falam mais do que qualquer diálogo, especialmente nas cenas de combate. No entanto, em alguns pontos, a narrativa se apoia excessivamente na premissa de que Eve é uma máquina de combate indestrutível, o que pode testar a suspensão de descrença do público. Embora a franquia John Wick seja conhecida por sua estilização, a resiliência quase sobrenatural de Eve em face de ferimentos graves pode parecer um pouco exagerada, mesmo para os padrões do universo.
A presença de Keanu Reeves como John Wick é um aceno bem-vindo aos fãs, e sua participação é dosada de forma a complementar a jornada de Eve sem ofuscá-la. É um testemunho da força do universo que personagens coadjuvantes como Winston (Ian McShane) e Charon (Lance Reddick, em uma de suas últimas atuações) continuam a enriquecer a trama com sua presença carismática e enigmática. Gabriel Byrne, como o Chanceler, o principal antagonista, oferece uma performance contida, mas ameaçadora, personificando a frieza e a crueldade do Culto. Norman Reedus, como Daniel Pine, adiciona uma camada interessante à trama, com sua dinâmica complexa com o Chanceler e Eve.
O Olhar do Maestro: Direção e Fotografia

Len Wiseman, conhecido por seu trabalho em filmes de ação como Anjos da Noite, demonstra um domínio impressionante da linguagem visual em Ballerina. A direção é ágil e dinâmica, com uma câmera que se move com a mesma fluidez dos bailarinos-assassinos. As sequências de luta são filmadas com clareza e impacto, permitindo que o espectador aprecie a complexidade da coreografia. A fotografia, por sua vez, é um espetáculo à parte. Utilizando uma paleta de cores que varia entre tons frios e quentes, o filme cria uma atmosfera que é ao mesmo tempo sombria e vibrante. As luzes de neon de Praga e a arquitetura gótica de Hallstatt servem como cenários deslumbrantes para a violência estilizada, transformando cada confronto em uma obra de arte em movimento. Há um cuidado notável em cada enquadramento, com composições que realçam a beleza e a brutalidade das cenas. No entanto, em alguns momentos, a estilização visual pode se sobrepor à substância emocional, tornando certas cenas mais um exercício de estilo do que de narrativa.
Personagens e Seus Ecos Temáticos

Os personagens de Ballerina são mais do que meros peões em um jogo de vingança; eles são reflexos de temas maiores que permeiam o universo John Wick. Eve Macarro personifica a busca por identidade e redenção em um mundo onde a violência é a única linguagem compreendida. Sua jornada é um embate entre a tradição brutal de seu treinamento e o desejo pessoal de justiça. A figura da Diretora (Anjelica Huston) representa a autoridade e a rigidez das regras que governam este submundo, enquanto o Chanceler encarna a corrupção e o poder absoluto. A relação entre Eve e Lena (Catalina Sandino Moreno), sua irmã há muito perdida, adiciona uma camada de complexidade emocional, explorando os laços familiares e as escolhas que moldam o destino.
O filme também aborda o tema da moralidade em um universo onde a linha entre o certo e o errado é tênue. A vingança de Eve, embora compreensível, a coloca em um caminho de violência sem fim, levantando questões sobre o ciclo da retribuição. A tradição da Ruska Roma, com seus rituais e códigos de conduta, contrasta com a modernidade dos métodos de assassinato, criando um pano de fundo interessante para a exploração desses temas.
Um Passo Adiante na Dança da Morte
Ballerina é um filme que, apesar de suas pequenas imperfeições, consegue se destacar no concorrido gênero de ação. Ele honra o legado de John Wick ao mesmo tempo em que abre novos caminhos para a franquia, apresentando uma protagonista carismática e sequências de ação de tirar o fôlego. A direção de Len Wiseman e a performance de Ana de Armas são os pilares que sustentam esta obra, transformando a vingança em uma dança brutal e inesquecível. É um filme que, sem dúvida, deixará os fãs da franquia ansiosos por mais.
Nota do IMDb: 7.3/10
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