Em Anônimo 2, Hutch Mansell troca a rotina assassina por férias em família, mas descobre que o passado violento é um parque de diversões perigoso. A sequência dirigida por Timo Tjahjanto amplia o escopo da violência e investe em um tom mais cômico, mas sofre para capturar a centelha única e surpreendente do original.
Uma Direção de Ação com Menos Golpes Baixos
A mudança na cadeira de direção é a primeira grande diferença palpável. Sai Ilya Naishuller e entra Timo Tjahjanto, cineasta conhecido por um estilo visceral e brutal. Em teoria, uma escolha promissora, mas na prática, o resultado é ambíguo. Tjahjanto imprime uma ação mais física e corporal, tentando evocar um espírito dos filmes B de ação dos anos 80, com muita diversão e exagero acima do realismo. No entanto, as coreografias do primeiro filme, consideradas de alto nível e memoráveis (como a clássica luta no ônibus), dão lugar a sequências que, embora satisfatórias, não se equiparam em criatividade ou impacto.
Um problema técnico recorrente é a falta de clareza na filmagem dos combates. Muitas cenas são filmadas com movimento excessivo ou enquadradas muito próximas, dificultando a compreensão do que exatamente está acontecendo. O espectador é, por vezes, convidado a preencher as lacunas de como Hutch elimina seus inimigos, o que pode dar uma sensação de que a produção foi mais “segura” ou menos ousada desta vez. Apesar disso, a motivação para a violência permanece eficaz, usando gatilhos de vingança e uma sensação de injustiça genuína para justificar organicamente as pancadarias.
Elenco e Atuações: Onde a Força Ainda Reside
O coração do filme continua sendo Bob Odenkirk como Hutch Mansell. Aos 62 anos, o ator prova novamente ter energia de sobra para as sequências de ação intensas, transitando com naturalidade impressionante entre o humor e os momentos mais sérios. Seu carisma é o motor que mantém o filme funcionando, mesmo quando a narrativa vacila. No entanto, desta vez, seu personagem tem menos espaço para se aprofundar. A camada psicológica que tornava Hutch interessante no primeiro filme é praticamente abandonada em favor de uma trama mais leve, e Odenkirk acaba tendo que dividir desnecessariamente sua tela com outros membros do elenco.
O elenco de apoio é competente, mas subutilizado. Christopher Lloyd, como o pai David, rouba cenas com seu carisma inabalável, mesmo com um tempo de tela reduzido em comparação ao primeiro filme, acrescentando doses de comédia. Connie Nielsen retorna como Becca, a esposa, e ganha um pouco mais de participação, com a família como um todo se tornando mais envolvida nas cenas de ação. Do lado dos antagonistas, Sharon Stone assume Lendina, uma chefona do crime implacável. Embora sua presença seja marcante, o roteiro a trata mais como uma gerente que comanda de bastidores, gastando mais tempo com seus subordinados do que com ela própria. Isso a torna menos impactante como uma “chefona final” verdadeiramente interessante.
Narrativa e Produção: Virtudes e Defeitos em Confronto
A trama de Anônimo 2 ocorre quatro anos após os eventos do primeiro filme. Hutch, agora ainda mais distante da esposa e dos filhos devido ao trabalho violento, tenta se redimir levando a família para férias em um parque aquático de sua infância. A premissa de “férias familiares que dão errado” serve como pano de fundo para os conflitos, mas é também a fonte dos principais problemas narrativos.
As Virtudes:
Tom Leve e Divertido: O filme abraça um tom mais cômico e despretensioso que o anterior, funcionando bem como entretenimento leve. A adição de mais família à trama é uma aposta válida para não repetir a fórmula anterior.
Cenários e Atmosfera: Os cenários coloridos e a ideia de verão passam uma leveza que contrasta com a violência, abrindo espaço para uma certa criatividade visual.
Ritmo e Duração: Com seus 89 minutos, o filme é operante e mantém um ritmo constante, não se arrastando desnecessariamente.
Os Defeitos:
Roteiro Previsível e Conveniente: A história é o calcanhar de Aquiles. O enredo é frequentemente previsível e se apoia em muletas narrativas, como um evento inusitado e aparentemente trivial (como um tapa na cabeça de uma personagem) para desencadear toda a trama. Falta profundidade dramática e as motivações parecem ser meros pretextos para a próxima cena de ação.
Vilões Mais Fracos: Os antagonistas, são mais fracos e menos ameaçadores do que os do primeiro filme. A constante troca de foco sobre quem é o verdadeiro chefe da organização criminosa diminui o impacto do confronto final.
Falta de Originalidade: O filme é criticado por ser uma sequência rotineira – maior, mais ruidosa, mas não mais fresca. Repete elementos do original, como uma luta em um transporte coletivo (desta vez em um barco), mas sem a mesma eficácia executiva.
Contexto Temático: Família e a Sombra do Passado
Os temas centrais giram em torno dos conceitos de família e a inescapabilidade do passado. A narrativa explora a contradição de um homem que, tentando se reconectar com sua família através de uma viagem nostálgica, acaba arrastando-os justamente para o mundo violento de onde queria protegê-los. A necessidade de escapismo e a distância familiar são gatilhos para a trama.
Há também uma exploração da tradição versus modernidade na forma como a violência é retratada. Se no primeiro filme a ação de Hutch era uma reação a uma vida suburbana opressora, aqui ela se torna quase um emprego familiar, com a família sendo mais participativa. Isso pode ser lido como uma tentativa de modernizar a dinâmica do herói solitário, mas que, para alguns, tira o foco da jornada pessoal de Hutch.
Uma Sequência que Entrega Ação, mas Sente Falta da Alma do Original
Anônimo 2 é um caso de sequência que tenta se diferenciar mudando o tom e o estilo, mas acaba tropeçando na falta de ambição narrativa. É um filme que entretém com suas cenas de ação vigorosas e o carisma inquestionável de Bob Odenkirk, mas que deixa uma sensação de oportunidade perdida. Para fãs do primeiro que buscarem uma pancadaria leve e divertida, sem grandes exigências de roteiro, vale a sessão. No entanto, para aqueles que esperavam a mesma combinação eletrizante de ação e profundidade de personagem, a experiência pode saber a algo repetitivo e menos ousado. O filme cumpre sua função de entreter, mas não consegue, de fato, impressionar.
Nota IMDb: 6.0/10
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