Inspirado em eventos reais, A Ordem recria a ascensão de um grupo supremacista branco nos anos 1980, entrelaçando crimes brutais e ideologias perigosas. Com direção de Justin Kurzel (Nitram), o filme é uma obra incômoda que não poupa o espectador, mas divide opiniões por seu ritmo irregular e ambição não totalmente realizada. Apesar de seu orçamento colossal — estimado em US$ 85 milhões —, a produção peca ao equilibrar complexidade temática e entretenimento, resultando em uma experiência que oscila entre o brilhante e o frustrante.
Dualidade entre caos e controle

Jude Law entrega uma performance contida como Terry Husk, agente do FBI obcecado em desvendar os crimes. Seu personagem é um homem solitário, marcado por fracassos pessoais e profissionais, cuja obsessão em desmantelar a organização supremacista beira a autodestruição. Law constrói essa dualidade com nuances impressionantes: em uma cena-chave, após uma emboscada que deixa colegas feridos, seu olhar vazio diante do espelho reflete não apenas culpa, mas também a perda de humanidade inerente à caça a extremistas .
Nicholas Hoult surpreende como Bob Mathews, líder carismático da organização. Sua atuação é um estudo de manipulação: sorrisos afetados, discursos calculados e uma calma perturbadora escondem uma sede de poder que beira o fanatismo. Destaque para a cena em que Mathews convence um recruta a abraçar a violência como “missão divina”, usando uma mistura de retórica histórica e apelos emocionais. Hoult domina o diálogo, transformando frases banais em armas ideológicas .
Tye Sheridan interpreta Jamie Bowen, um jovem policial dividido entre lealdade ao dever e questionamentos morais. Sheridan entrega uma atuação física intensa, especialmente em cenas de confronto, onde seu corpo tensionado transmite o conflito interno. O elenco secundário, porém, carece de profundidade. Personagens como Debbie Mathews (Alison Oliver) são reduzidos a estereótipos, desperdiçando oportunidades de explorar dinâmicas familiares sob extremismo.
Tensão visual, mas exageros narrativos

Kurzel imprime uma estética sombria, com planos fechados que sufocam os personagens, como na sequência do assalto a banco, filmada em long take que amplifica o caos. A câmera segue os criminosos em movimentos frenéticos, enquanto a trilha sonora de Jed Kurzel (irmão do diretor) combina batidas industriais com silêncios abruptos, criando uma sensação de inquietação . A fotografia reforça a atmosfera opressiva: tons esverdeados dominam as cenas urbanas, contrastando com a luz fria e artificial dos esconderijos dos supremacistas.
No entanto, a narrativa tropeça ao tentar equilibrar drama histórico e crítica social. A estrutura não linear, que alterna entre o passado dos crimes e o presente da investigação, confunde mais do que esclarece. Em certos momentos, flashbacks repentinos interrompem o ritmo, como uma cena em que Husk relembra um trauma familiar sem conexão clara com a trama principal . Além disso, a subtrama romântica entre Husk e Joanne Carney (interpretada por Jurnee Smollett) parece fora de lugar, diluindo o foco no conflito central.
O veneno da tradição em um mundo em mudança

A Ordem debate a colisão entre tradição e modernidade: os supremacistas, temerosos da diversidade crescente, usam violência arcaica (assaltos, falsificação) para financiar uma guerra cultural. O filme não romantiza o terror, mas o roteiro poderia explorar mais as motivações individuais. Por exemplo, Bob Mathews é apresentado como um líder carismático, mas pouco sabemos sobre suas origens além de um breve diálogo sobre “honrar a história branca” . Isso reduz o conflito a uma batalha entre “bons e maus”, simplificando a complexidade do extremismo.
A mensagem sobre a disseminação de ideologias extremistas é urgente, porém a falta de nuances torna o tema previsível. Em contrapartida, o filme acerta ao mostrar como governos falham ao tratar grupos como A Ordem: cenas de reuniões políticas expõem a hesitação em agir, seja por medo de reações públicas ou por subestimar a ameaça . Esse paralelo com crises atuais, como o ressurgimento de movimentos neonazistas, adiciona relevância à trama.
Ambição incompleta, mas relevante
A Ordem é um thriller que acerta ao expor as raízes do ódio, mas peca pela superficialidade em arcos secundários e pelo ritmo desigual. Apesar do orçamento milionário, a produção parece limitada por escolhas narrativas inseguras, resultando em um produto que, embora impactante, não alcança seu potencial. A cena final — um discurso de Mathews ecoando em um auditório vazio — sintetiza a mensagem: o extremismo persiste mesmo quando ignorado, mas o filme, infelizmente, não consegue sustentar essa tensão até o fim. Para fãs de dramas criminais com pegada política, ainda assim, é uma experiência marcante.
Nota IMDb: 6,8/10
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