A franquia Predador sempre se sustentou em uma premissa simples e visceral: a caçada. Desde o clássico de 1987, a tensão residia no confronto entre a inteligência humana e a tecnologia alienígena, um duelo de sobrevivência onde o Predador era a força da natureza, implacável e quase invencível. Com Predador: Terras Selvagens (2025), o diretor Dan Trachtenberg, que havia ressuscitado a série com o aclamado O Predador: A Caçada (Prey, 2022), tenta uma nova abordagem, mas o resultado é um desastre narrativo que, ironicamente, destrói o legado que ele próprio havia tentado restaurar. Este não é apenas um filme ruim; é, inegavelmente, o pior filme da franquia Predador. Seria algum tipo de ordem da Disney para “suavizar” o personagem?
Elenco e Atuações: O Desperdício de um Talento
O filme se aventura em um futuro distante, em um planeta remoto, focando em um jovem Predador, Dek (interpretado por Dimitrius Schuster-Koloamatangi), que é um pária de seu clã. A trama se complica com a introdução de Thia, uma androide sintética da Weyland-Yutani, interpretada por Elle Fanning. A escolha de Fanning, uma atriz de calibre dramático, parecia promissora, mas seu talento é tragicamente subutilizado em um roteiro que a transforma em um mero dispositivo de enredo.
A atuação de Fanning como Thia é marcada por uma frieza robótica que, embora intencional, falha em gerar qualquer empatia. A narrativa exige que ela carregue o peso emocional da história, mas a personagem é tão mal desenvolvida que sua jornada parece vazia. O grande problema reside na dualidade da personagem, que Fanning tenta executar com nuances, mas que o roteiro não sustenta. A tentativa de humanizar a androide, dando-lhe um “código moral” após um colapso, é um clichê de ficção científica executado de forma preguiçosa.
Schuster-Koloamatangi, por sua vez, tem a ingrata tarefa de dar vida a um Predador que é, essencialmente, um adolescente alienígena incompreendido. O Predador, que deveria ser a personificação do terror e da eficiência, é reduzido a um protagonista melancólico e ineficaz. A química entre os dois é inexistente.
Narrativa e Roteiro: A Desconstrução Involuntária
O grande erro de Terras Selvagens é a sua ambição equivocada de “desconstruir” o Predador. Ao invés de focar na caçada, o filme se concentra na política interna Yautja (a raça Predador) e em uma crise de identidade do protagonista. A premissa de um Predador rejeitado que se alia a uma androide para caçar é um desvio temático que enfraquece a fundação da franquia.
Defeitos da Narrativa:
1. O Predador Ineficaz: O Predador Dek é consistentemente superado e ferido, o que destrói a aura de ameaça da espécie. Em vez de ser um mestre caçador, ele parece um novato desajeitado. A cena em que ele é facilmente emboscado por um grupo de criaturas nativas do planeta, perdendo seu equipamento de forma banal, é um insulto à mitologia Yautja.
2. Diálogos Expositivos: O filme gasta tempo demais explicando a cultura Yautja e a origem de Thia através de diálogos pesados e desinteressantes, em vez de mostrar a ação. A subtrama sobre a “Grande Caçada” e as regras do clã é confusa e mal integrada à ação principal.
3. Ritmo Lento e Confuso: O primeiro ato é arrastado, focado em estabelecer a melancolia de Dek e a natureza robótica de Thia. Quando a ação finalmente começa, ela é interrompida por flashbacks desnecessários e revelações previsíveis sobre o passado da androide.
Virtudes da Narrativa (e por que elas falham):
1. A Tentativa de Inovação: A ideia de explorar o mundo natal ou a cultura Yautja é, em teoria, uma virtude. No entanto, a execução transforma os alienígenas em seres com motivações humanas excessivamente simplificadas, perdendo o mistério e o terror.
2. A Fotografia: A cinematografia, a cargo de Jeff Cutter, é visualmente impressionante, capturando a beleza selvagem e alienígena do planeta. As paisagens são vastas e as cores vibrantes. Contudo, essa beleza é usada para mascarar a falta de substância, tornando o filme um espetáculo visual vazio.
Direção e Produção: A Falha em Gerar Tensão
Dan Trachtenberg é um diretor talentoso, mas aqui ele parece perdido. Enquanto em Prey ele soube usar o cenário e a época para construir uma tensão crescente e orgânica, em Terras Selvagens ele confia demais em efeitos visuais e sequências de ação coreografadas que parecem genéricas.
A produção é de alto nível, com design de criaturas e cenários futuristas convincentes. O novo design do Predador, embora diferente, é visualmente interessante. O problema é que a direção falha em usar esses elementos para gerar medo. O Predador não é mais uma ameaça invisível; ele é um personagem que fala (ou grunhe) demais e age de menos.
A trilha sonora, que tenta emular a grandiosidade épica de outros filmes de ficção científica, é excessivamente dramática e não consegue salvar as cenas de ação que carecem de impacto.
Contexto Temático: O Fim da Caçada
O tema central de Predador: Terras Selvagens é a identidade e a aceitação. O Predador Dek busca seu lugar, e Thia busca sua humanidade. Ao focar nisso, o filme se afasta do tema central da franquia: a sobrevivência e a hierarquia da caça.
Comparado a Predador (1987), que era um thriller de ação e terror claustrofóbico, e a O Predador: A Caçada (Prey, 2022), que retornou às raízes da caçada pura, Terras Selvagens é um filme de ficção científica genérico com um Predador inserido. A tentativa de criar uma “ópera espacial” com os Yautja falha miseravelmente.
O filme comete o mesmo erro de Alien vs. Predador (2004) e Predadores (2010), ao tentar explicar demais a mitologia. O mistério do Predador é o que o torna assustador. Ao transformá-lo em um protagonista com problemas de autoestima, o filme o torna patético.
O Final e o Futuro da Franquia: Uma Continuação Desnecessária
O final de Predador: Terras Selvagens é a sua maior ofensa. Após uma batalha final anticlimática, Dek e Thia conseguem derrotar o clã que o rejeitou. A cena final sugere que Dek e Thia se tornam uma dupla de caçadores renegados, prontos para explorar a galáxia.
O que significa para a franquia: Este final é um sinal de alerta. Ele estabelece um novo status quo onde o Predador é um herói de ação, e não um monstro. Isso abre a porta para sequências que se assemelham mais a Guardiões da Galáxia do que a Predador. A franquia, que deveria ser sobre o medo do desconhecido, agora se resume a uma aventura buddy cop intergaláctica. É um final que não apenas falha em satisfazer, mas que ativamente prejudica qualquer potencial retorno às raízes do terror.
Um Ponto Final Lamentável
Predador: Terras Selvagens é um exemplo de como a ambição sem foco pode destruir uma propriedade intelectual. É um filme visualmente polido, mas dramaticamente inerte, que confunde complexidade com confusão. Para os fãs da franquia, é uma decepção dolorosa. Para os novatos, é um filme de ficção científica esquecível. A caçada acabou, e o Predador perdeu. Só nos resta torcer para que a Disney e Dan Trachtenberg (que havia acertado em Prey e Assassino de Assassinos) permitam que o Predador volte a ser o que ele realmente é: Um Caçador Magnífico e Impiedoso!
Nota do IMDb: 7.6/10.
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