A bruxa habita nosso imaginário há séculos: figura maldita na Idade Média, vilã em contos de fadas, símbolo de resistência feminina. No cinema, ela desdobra-se em infinitas facetas — do terror gótico à comédia libertadora. Suas histórias refletem medos ancestrais, mas também celebram o poder marginalizado da mulher que ousa desafiar convenções. Prepare o caldeirão e a vassoura: mergulhamos em 10 filmes essenciais que transformam estereótipos em arte.
1. A Bruxa (2015)

Direção: Robert Eggers
Nova Inglaterra, século XVII. Uma família puritana é banida da colônia e se instala à beira de uma floresta proibida. Quando o bebê desaparece, a paranoia religiosa e a histeria coletiva revelam forças sombrias que podem ser demoníacas… ou projeções de sua própria culpa.
Destaque: A cena da amamentação com sangue de cabra, um choque visual que sintetiza o horror do sobrenatural e da maternidade desesperada.
Nota IMDb: 7.0/10
2. As Bruxas de Eastwick (1987)

Direção: George Miller
Três mulheres solitárias (Cher, Susan Sarandon, Michelle Pfeiffer) vivem numa cidade conservadora até conjurarem sem querer o homem perfeito: o sedutor e diabólico Daryl Van Horne (Jack Nicholson). Quando descobrem seus poderes latentes, usam-nos para desafiar o patriarcado local.
Destaque: A cena do jantar com cerejas, onde Van Horne seduz cada mulher personificando seus desejos reprimidos — uma sátira afiada sobre sexualidade feminina e poder.
Nota IMDb: 6.9/10
3. Convenção das Bruxas (1990)

Direção: Nicolas Roeg
Um menino e sua avó descobrem que um hotel de luxo hospeda uma convenção de bruxas lideradas pela Grand High Witch (Anjelica Huston). Seu plano? Transformar crianças em ratos.
Destaque: A cena em que Huston remove a máscara humana, revelando um rosto grotesco de gárgula — trauma geracional de milhões de crianças.
Nota IMDb: 6.8/10
4. Suspiria (2018)

Direção: Luca Guadagnino
Em 1977, Susie, uma jovem bailarina americana, ingressa numa prestigiada academia de dança em Berlim. O desaparecimento de uma aluna a leva a desvendar uma seita de bruxas que usa movimentos coreográficos para rituais.
Destaque: A sequência de dança onde os espasmos de Susie controlam o corpo de outra bailarina como uma marionete de carne — coreografia como feitiço visceral.
Nota IMDb: 6.7/10
5. Abracadabra (1993)

Direção: Kenny Ortega
Três irmãs bruxas do século XVII ressuscitam no Halloween moderno graças a um adolescente. Para permanecerem jovens, precisam sugar a vida de crianças — mas enfrentam uma geração com iPhone e atitude.
Destaque: O número musical “I Put a Spell on You”, onde Winifred Sanderson (Bette Midler) transforma um salão de festas em um ritual pop-rock hilário.
Nota IMDb: 6.9/10
6. Jovens Bruxas (1996)

Direção: Andrew Fleming
Sarah une-se a três colegas marginalizadas para formar um coven de bruxas adolescentes. Quando usam magia para manipular a realidade, o poder corrompe sua amizade, desencadeando forças obscuras.
Destaque: A invocação de Manon, deusa pagã, na praia à noite — um rito de empoderamento que se transforma em arrogância perigosa.
Nota IMDb: 6.4/10
7. As Brumas de Avalon (2001)

Direção: Uli Edel
Releitura feminista da lenda do Rei Artur pela perspectiva de Morgana (Julianna Margulies) e Viviane (Anjelica Huston). Em Avalon, sacerdotisas pagãs lutam para preservar sua cultura contra o avanço do cristianismo.
Destaque: A cerimônia no círculo de pedras, onde Morgana aceita seu destino como guardiã da Deusa — magia como resistência política.
Nota IMDb: 7.4/10
8. A Maldição do Demônio (1960)

Direção: Mario Bava
Uma bruxa executada no século XVII retorna para possesssionar sua descendente, Katia. Usando máscaras de ferro e rituais góticos, vinga-se dos acusadores que a queimaram.
Destaque: Os olhos arrancados da bruxa Asa durante a execução — efeito prático revolucionário que influenciou o terror italiano por décadas.
Nota IMDb: 7.4/10
9. Da Magia à Sedução (1998)

Direção: Griffin Dunne
Irmãs bruxas (Sandra Bullock e Nicole Kidman) herdam uma maldição familiar: todo homem que amam morre. Quando uma delas assassina o parceiro abusivo, a ressurreição dá errado, forçando-as a confrontar legados tóxicos.
Destaque: A cena do “midnight margaritas”, onde Sally e Gillian dançam desesperadas na cozinha — alquimia entre luto e irmandade.
Nota IMDb: 6.3/10
10. As Bruxas de Salem (1996)

Direção: Nicholas Hytner
Adaptação da peça “The Crucible” de Arthur Miller, retrata os julgamentos das bruxas de Salem em 1692. A histeria coletiva surge quando Abigail Williams (Winona Ryder) acusa Elizabeth Proctor de bruxaria para ficar com seu marido, John (Daniel Day-Lewis).
Destaque: O discurso final de John Proctor recusando-se a assinar uma confissão falsa — um grito contra a opressão religiosa e a corrupção moral.
Nota IMDb: 7.4/10
A Bruxa Como Espelho Social
Do medo à veneração, as bruxas no cinema são mais que personagens: são alegorias de poder, gênero e rebeldia. As Bruxas de Eastwick (1987) sintetiza essa dualidade ao transformar três mulheres oprimidas em agentes de seu próprio destino, usando a magia como metáfora de libertação sexual . Já As Bruxas de Salem (1996) nos lembra que a caça às bruxas nunca acabou — apenas mudou de forma, ecoando em perseguições políticas modernas.
Se nos anos 1960 as bruxas eram vítimas (A Maldição do Demônio), nos anos 2000 tornaram-se guardiãs de tradições pagãs (As Brumas de Avalon). Hoje, filmes como A Bruxa (2015) resgatam seu papel como espelho dos horrores da intolerância, enquanto comédias como Abracadabra celebram seu legado cultural com irreverência.
“A bruxa que sobrevive é aquela que os outros não veem”, diz um provérbio pagão. Nos filmes, ela nunca se cala: ecoa nossa luta por identidade em um mundo que ainda teme o diferente.
Qual dessas histórias de bruxaria reflete suas próprias batalhas? Compartilhe nos comentários!