Round 6 – 3ª Temporada: Um Desfecho Amargo Sob o Peso da Ganância Corporativa


Quatro anos após revolucionar a Netflix, Round 6 chega ao seu capítulo final com uma temporada que troca a crítica social afiada por melodrama e concessões comerciais. Enquanto a primeira temporada era um soco no estômago pela sua alegoria sobre desigualdade, e a segunda já mostrava sinais de fadiga criativa, a terceira (2025) enterra o legado da série em subplots inflados, personagens desperdiçados e um final apressado que prioriza fan service e spin-offs em detrimento da coerência narrativa. Hwang Dong-hyuk, outrora visionário, parece refém da máquina que ajudou a criar.


Entre o Arrastado e o Acelerado

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A temporada abre com Gi-hun (Lee Jung-jae) infiltrado nos jogos para destruí-los, mas rapidamente se perde em subtramas burocráticas:

– Votações Intermináveis: Cenas repetitivas de participantes decidindo continuar ou abandonar o jogo consomem tempo precioso. Um VIP chega a dizer: “Assistiu à votação este ano? Mais emocionante que os jogos!” – ironia que soa como confissão involuntária da crise criativa.

– Jogos Sem Impacto: Salvo o episódio 4 (um massacre psicológico durante “Pular Corda”) e o “Esconde-Esconde” sombrio, a maioria dos desafios carece de inventividade. O clímax com o “Sky Squid Game” em torres geométricas é visualmente impressionante, mas as regras são explicadas de forma confusa, e a morte de Gi-hun soa mais como conveniência simbólica que conclusão orgânica.

– Barrigas Narrativas: A trama de No-eul (Park Gyu-young) invadindo o escritório do Front Man para queimar arquivos é irrelevante, já que a base explode minutos depois. Já a investigação de Jun-ho (Wi Ha-joon) contra o irmão In-ho (Lee Byung-hun) termina num anticlímax: ele aponta uma arma… e não atira.


Brilhos no Vácuo

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O elenco entrega performances dignas, mas esbarra em roteiros inconsistentes:

Lee Jung-jae como Gi-hun: Sua jornada de redenção é o único arco emocional consistente. Jung-jae transmite culpa e exaustão com olhares e silêncios – seu suicídio para salvar o bebê é a única cena genuinamente comovente da temporada.

Lee Byung-hun como Front Man (In-ho): Rouba cenas com presença glacial e dilemas morais subtilizados (como salvar o bebê). É pena que seu passado e motivações sigam nebulosos.

Im Si-wan como Myung-gi (Pai do Bebê): Vilão unidimensional, movido puramente pela ganância. Sua morte previsível no Sky Squid Game não causa impacto.

Jo Yu-ri como Jun-hee (Mãe do Bebê): Sua autoimolação no jogo de corda é poderosa, mas o personagem é reduzido a um plot device para justificar o bebê como “jogador”.


Beleza Estética e Falhas de Substância

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– Direção de Arte e Fotografia: Os sets mantêm o estilo surrealista (torres geométricas, salas de controle neofuturistas), e o contraste entre cores vibrantes e violência segue eficaz.

– Efeitos Especiais Problemáticos: CGI falha em cenas chave, como o jogo de corda, onde a física irreal das quedas quebra a imersão.

– Figurino e Simbolismo: Os macacões dos jogadores e máscaras dos guardas perdem força simbólica ao longo da temporada, virando meros merchandising.


Solidariedade vs. Ganância (Do Roteiro e da Netflix)

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A mensagem central de “sobrevivemos pela solidariedade”, é válida, mas mal executada:

– Sacrifício Materno: Jun-hee morre pelo filho; Gi-hun se mata pelo bebê alheio. São gestos nobres, mas não compensam a falta de desenvolvimento dessas relações.

– Crítica Social Rasa: Os “VIPs” continuam caricatos (com diálogos em inglês travados), e a organização por trás dos jogos nunca é exposta, enfraquecendo a crítica ao capitalismo predatório.

– Niilismo Conveniente: O final mostra que os jogos continuam nos EUA (com Cate Blanchett recrutando), sugerindo um ciclo inescapável de exploração. Porém, soa menos como denúncia e mais como gancho para spin-offs.


Por Que Esta Temporada Desaponta?

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Round 6 encerra sua trilogia como vítima do próprio sucesso:

1. Diluição da Essência: A ênfase em drama emocional excessivo (lágrimas, votações, flashbacks) substitui a tensão claustrofóbica e a crítica social incisiva das origens.

2. Final Apressado: Após 5 episódios arrastados, o episódio 6 resolve tramas complexas em cenas corridas: autodestruição da ilha, redenção do Front Man e expansão dos jogos para os EUA – tudo sem profundidade.

3. Personagens Subutilizados: Hyun-ju (Park Sung-hoon), a soldado trans, e Yong-sik (Yang Dong-geun), o filho da jogadora idosa, são ignorados na reta final, enquanto figurantes ganham destaque.


Um Legado Manchado Pela Pressa


A terceira temporada de Round 6 é um exercício de contradições: bela esteticamente, mas narrativamente preguiçosa; bem atuada, mas mal escrita; ambiciosa tematicamente, mas simplesta em suas conclusões. Seu maior pecado é trair a própria mensagem: ao esticar a trama além do necessário e priorizar “franchising” sobre fechamento, a série torna-se espelho da ganância que pretendia criticar. Ainda assim, o sacrifício final de Gi-hun e a atuação de Lee Jung-jae salvam o desfecho de ser um completo desastre – ainda que insuficiente para redimir 6 horas de mediocridade.


Nota IMDb: 6.0/10

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