A muito aguardada adaptação live-action de Lilo & Stitch chegou aos cinemas em 2025, trazendo a icônica dupla havaiana e seu amigo extraterrestre para uma nova geração. Sob a direção de Dean Fleischer Camp, conhecido pela sensibilidade de Marcel, A Concha de Sapatos, o filme busca reimaginar a amada animação de 2002. Prometendo uma mistura de aventura, comédia e o calor do conceito de Ohana, esta versão enfrenta o desafio monumental de capturar a magia peculiar do original enquanto navega pelas expectativas e armadilhas inerentes aos remakes da Disney. Será que a essência de Lilo, Stitch e sua família encontrada sobrevive à transição para o live-action, ou se perde em meio a efeitos visuais e mudanças narrativas?
Entre a Nostalgia e a Novidade: A Trama Recontada

A narrativa de Lilo & Stitch (2025) segue, em linhas gerais, a estrutura do filme original: a pequena e incompreendida Lilo Pelekai (Maia Kealoha), vivendo no Havaí sob a guarda de sua irmã mais velha Nani (Sydney Agudong) após a morte dos pais, adota um “cachorro” peculiar que acaba por ser o Experimento 626, um alienígena geneticamente modificado e fugitivo, a quem ela chama de Stitch (voz de Chris Sanders). A chegada de Stitch vira a vida das irmãs de cabeça para baixo, atraindo caçadores intergalácticos – o criador de Stitch, Dr. Jumba Jookiba (Zach Galifianakis), e a Agente Pleakley (Billy Magnussen) – e colocando em risco a já frágil estrutura familiar supervisionada pelo assistente social Cobra Bubbles (Courtney B. Vance), aqui reimaginado mas ainda presente. O filme tenta equilibrar a ação da perseguição alienígena com o drama familiar e a formação do laço entre Lilo e Stitch.
Contudo, é nesse equilíbrio que residem as principais virtudes e defeitos da narrativa. Por um lado, o filme acerta ao manter momentos icônicos e a energia caótica de Stitch, que continua sendo uma fonte de humor e fofura destrutiva. A ambientação havaiana é visualmente explorada, dando um pano de fundo vibrante à história. Por outro lado, a adaptação tropeça em seu próprio ritmo. Há uma sensação de pressa no desenvolvimento inicial da relação entre Lilo e Nani, e entre Lilo e Stitch, diluindo o impacto emocional que a animação construiu com mais cuidado. Certos arcos e personagens secundários do original foram cortados ou minimizados, enquanto novos personagens, como a Sra. Kekoa (interpretada por Tia Carrere, a voz original de Nani), uma assistente social mais convencional, e Tūtū (Amy Hill, outra voz do original), a vizinha gentil, são introduzidos. Embora a intenção possa ter sido modernizar ou aprofundar certos aspectos, essas mudanças nem sempre parecem orgânicas, onde os novos elementos não agregam substancialmente à trama central, e a ausência de figuras como o Capitão Gantu (embora a Grande Conselheira, interpretada por Hannah Waddingham, esteja presente) altera a dinâmica da ameaça alienígena.
A mudança mais sentida, apontada por fãs e críticos, parece ser no tratamento do tema central: Ohana. Enquanto o conceito de família que não abandona ninguém ainda está presente, sua exploração parece menos profunda e ressonante. A jornada emocional de Lilo, marcada pelo luto e pela dificuldade de se encaixar, e a redenção de Stitch, aprendendo o significado de pertencimento, parecem menos impactantes. A narrativa, por vezes, prioriza a ação e o espetáculo visual em detrimento da construção paciente das relações e do desenvolvimento emocional que tornaram o original tão especial. O resultado é uma história que, embora funcional e por vezes divertida, parece um eco do original, faltando a mesma força e coração.
A Visão de Fleischer Camp: Estética Havaiana e Desafios do CGI

Dean Fleischer Camp, vindo do sucesso intimista e artesanal de Marcel, A Concha de Sapatos, parecia uma escolha intrigante para Lilo & Stitch. Sua sensibilidade para retratar personagens peculiares e emoções delicadas poderia trazer uma nova camada ao material. Visualmente, o filme entrega paisagens havaianas deslumbrantes, capturadas pela cinematografia de Nigel Bluck, que servem como um cenário autêntico e imersivo. A integração do CGI, especialmente na criação de Stitch e outros alienígenas, era um dos maiores desafios. Stitch, em particular, precisava ser expressivo, fofo e ameaçador, transitando entre o “cachorro feio” e a criatura geneticamente modificada. O design busca um meio-termo entre o cartoon original e um realismo plausível para o live-action. O resultado é tecnicamente competente, e Stitch consegue protagonizar cenas de ação e comédia eficazes, mas parte da expressividade exagerada e do charme único do design 2D original inevitavelmente se perde na tradução para o CGI “realista”, uma crítica comum a muitos remakes da Disney.
A direção de Fleischer Camp tenta infundir calor humano nas interações, especialmente nas cenas entre Lilo e Nani, mas parece contida pela escala do blockbuster e pelas exigências do roteiro. Onde Marcel brilhava pela simplicidade e foco emocional, Lilo & Stitch (2025) por vezes parece dividido entre honrar o material fonte e seguir a fórmula dos remakes da Disney. Há um esforço para manter a peculiaridade – a trilha sonora ainda incorpora Elvis Presley, embora talvez com menos destaque – mas a sensação geral é de uma produção mais polida e menos ousada que a animação original. A direção consegue criar momentos visualmente agradáveis e cenas de ação competentes, mas luta para recapturar a anarquia controlada e a profundidade emocional agridoce que definiram o filme de 2002.
Rostos Familiares e Novas Apostas: O Elenco em Destaque

O elenco é um dos pontos mais comentados do remake. A estreante Maia Kealoha assume o papel central de Lilo. Sua performance é frequentemente elogiada pela energia e por capturar a natureza travessa e inquisitiva da personagem. Ela consegue carregar muitas das cenas com carisma, embora a complexidade emocional de Lilo, especialmente sua dor e inadequação social, poderiam ser mais exploradas, talvez uma limitação do roteiro mais do que da atriz. Sydney Agudong como Nani enfrenta o desafio de retratar a irmã mais velha sobrecarregada. Enquanto Agudong traz força ao papel, apesar que sua Nani parece mais dura ou menos vulnerável que a versão animada, alterando a dinâmica fraternal. A química entre as duas atrizes é crucial, e parece funcionar em certos momentos, mas talvez não com a mesma intensidade do original.
Chris Sanders retornando para dar voz a Stitch é um ponto positivo inegável, garantindo a continuidade sonora do personagem icônico. Seus grunhidos, risadas e frases quebradas são instantaneamente reconhecíveis. No entanto, a pura performance vocal, sem o suporte da animação 2D original, pode parecer ligeiramente diferente em seu impacto. Zach Galifianakis como Jumba e Billy Magnussen como Pleakley formam a dupla cômica alienígena. Galifianakis traz seu timing cômico característico para o cientista louco, enquanto Magnussen (que também esteve no live-action de Aladdin) encarna a excentricidade de Pleakley. Ambos entregam performances divertidas, embora talvez sem a mesma química anárquica dos dubladores originais. Courtney B. Vance como Cobra Bubbles oferece uma presença imponente, mas a comparação com a voz inconfundível e a figura singular de Ving Rhames no original é inevitável, com alguns sentindo falta daquela peculiaridade específica. Kaipo Dudoit como David Kawena cumpre o papel do interesse amoroso de Nani e amigo da família, trazendo simpatia à figura do surfista/artista de fogo. A presença de Hannah Waddingham como a Grande Conselheira adiciona peso à liderança alienígena. As participações de Tia Carrere e Amy Hill em novos papéis, e Jason Scott Lee (voz original de David) como gerente de lūʻau, são acenos bem-vindos aos fãs do original, conectando as duas versões.
Ohana em 2025: Família, Pertencimento e a Sombra da Original

O coração temático de Lilo & Stitch sempre foi Ohana – a ideia de que família significa nunca abandonar ou esquecer. A animação original explorou isso com uma profundidade surpreendente, abordando temas de luto, disfuncionalidade familiar, solidão, aceitação da diferença e a criação de laços em circunstâncias improváveis. O remake de 2025 tenta abordar esses mesmos temas, mas, como mencionado, a execução parece menos ressonante para muitos. A jornada de Lilo para lidar com a perda dos pais e sua dificuldade em se conectar com outras crianças, e a luta de Nani para manter a guarda da irmã enquanto tenta construir sua própria vida, formam o núcleo dramático. A chegada de Stitch, um ser criado para destruir que encontra um lar e aprende a amar, deveria ser o catalisador emocional.
No entanto, a adaptação parece suavizar algumas das arestas mais complexas. A dor de Lilo e a pressão sobre Nani são apresentadas, mas talvez com menos nuances. A transformação de Stitch de monstro caótico para membro da família parece mais acelerada, diminuindo o impacto de sua escolha final e da aceitação pela Grande Conselheira. O filme ainda fala sobre família encontrada e pertencimento, mas a mensagem pode parecer mais declarada do que sentida, ofuscada pela necessidade de cumprir os pontos da trama e entregar sequências de ação. A comparação com o original é inevitável e, nesse aspecto, o remake parece lutar para alcançar a mesma profundidade emocional e a peculiaridade agridoce que fizeram da animação um clássico duradouro. A tentativa de “modernizar” ou ajustar a mensagem, como algumas críticas sugerem em relação à interpretação de Ohana, pode ter diluído seu poder universal.
Um Remake Dividido: Veredito Final
Lilo & Stitch (2025) é um filme que provavelmente dividirá opiniões, especialmente entre os fãs ardorosos da animação original. Por um lado, oferece um espetáculo visual competente, cenários havaianos encantadores, momentos de humor genuíno (principalmente cortesia de Stitch) e uma performance carismática da jovem Maia Kealoha como Lilo. O retorno de Chris Sanders como a voz de Stitch é um trunfo. Para um público novo ou menos familiarizado com o original, pode funcionar como uma aventura familiar divertida e visualmente agradável.
Por outro lado, o filme luta para escapar da sombra do original. As mudanças na narrativa e nos personagens nem sempre parecem justificadas ou bem-sucedidas, o ritmo pode ser irregular e, crucialmente, a profundidade emocional e a peculiaridade que tornaram a animação de 2002 tão amada parecem atenuadas. A direção de Dean Fleischer Camp, embora competente, não consegue replicar totalmente a magia. É um remake que acerta em alguns aspectos técnicos e de elenco, mas falha em recapturar a alma complexa e o coração pulsante de seu antecessor. É assistível, por vezes encantador, mas deixa a sensação de que Ohana, desta vez, significou algo um pouco menos impactante.
Nota IMDb: 7.0/10
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