Vencedor do Oscar 2025 de Melhor Filme, Anora é um mergulho caótico e poético na vida de uma stripper nova-iorquina que transforma um romance fortuito com um herdeiro russo em um jogo de sobrevivência emocional e financeira. Sean Baker, em sua obra mais ambiciosa, mescla humor ácido e drama cru para questionar até que ponto o amor e o dinheiro são moedas de troca no mundo moderno.
Elenco e Atuações: Crueza que Encanta e Assusta

Mikey Madison entrega uma performance visceral como Anora, equilibrando a vulnerabilidade de uma mulher à margem da sociedade e a astúcia de quem domina as regras do jogo. Seu olhar cansado, mas sempre calculista, revela camadas de uma protagonista que não se encaixa em arquétipos fáceis. Já Mark Eydelshteyn, como Ivan — herdeiro mimado de um oligarca Russo —, contrasta com sua ingenuidade deslocada, funcionando como um peixe fora d’água no submundo de Anora. A química entre eles é elétrica, mas oscila entre o afeto genuíno e a manipulação, deixando o espectador em constante dúvida.
Direção e Fotografia: Caos Controlado

Baker reafirma seu talento para transformar o caótico em catártico. A câmera, muitas vezes em planos sequência frenéticos, acompanha Anora em sua rotina de strip club sujo e apartamentos decadentes, criando uma imersão incômoda. A fotografia, saturada de luzes neon e tons terrosos, reflete a dualidade entre a fantasia efêmera do sexo pago e a crueza da realidade. A edição fragmentada, marca registrada de Baker, acelera o ritmo em momentos-chave, como na sequência do casamento bizarro que desencadeia o terceiro ato, mas pode parecer abrupta para quem prefere narrativas lineares.
Temas e Contradições: Amor como Moeda

O filme não poupa ao explorar a transicionalidade de relações modernas: Anora vende ilusões, Ivan compra afeto, e ambos negociam identidades em crise. A família disfuncional de Ivan, marcada por tradições patriarcais, contrasta com a “família” improvisada de Anora, composta por colegas strippers e clientes regulares. Baker não oferece respostas, mas questiona: em um mundo onde tudo é transacionável, o que resta da humanidade?
Uma Fábula Desencantada
Tendo na atuação de Mikey Madison seu grande destaque, Anora não é perfeito — seu terceiro ato, embora ousado, pode parecer forçado para alguns, e a trilha sonora excessivamente dramática às vezes sobrecarrega. Mesmo assim, é um testemunho do poder do cinema de mergulhar na complexidade humana sem romantizá-la. Vencedor merecido do Oscar 2025, o filme desafia convenções e emociona justamente por não ter medo de ser espinhoso, nos mostrando a efemeridade das relações no mundo líquido o qual estamos vivendo. O que nos faz questionar: Tudo tem um preço? Inclusive o amor?
Nota IMDb: 8.7/10
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