O mundo da animação japonesa é um universo vasto e repleto de maravilhas, mas nenhum nome brilha com tanta força e consistência quanto o de Hayao Miyazaki. Enquanto A Viagem de Chihiro e Meu Amigo Totoro conquistaram o status de ícones pop globais, existe um catálogo rico e profundamente pessoal além desses sucessos mainstream. São obras onde Miyazaki explorou temas mais complexos, experimentou com tons narrativos distintos e esculpiu personagens que permanecem conosco muito depois que os créditos finais rolam. Este artigo é um convite para uma jornada além do óbvio, um mergulho em dez filmes essenciais do mestre que são verdadeiras joias escondidas no vasto tesouro do Studio Ghibli e além.
Prepare-se para explorar histórias de heróis amaldiçoados, pioneiros da aviação e aventuras aéreas que vão muito além do que os holofotes geralmente iluminam. Vamos desvendar juntos esse legado cinematográfico.
1. Nausicaä do Vale do Vento (1984)
Em um mundo pós-apocalíptico dominado por uma floresta tóxica e criaturas gigantes, a princesa Nausicaä luta para entender o frágil ecossistema e evitar que duas nações beligerantes destruam o que resta da humanidade. Sua jornada é um canto de esperança e compreensão em meio à destruição.
Destaque: A sequência em que Nausicaä flutua sob o dossel da floresta, cercada por esporos luminosos, é de uma beleza transcendental. A animação da paisagem, ao mesmo tempo mortal e deslumbrante, estabelece a marca registrada de Miyazaki: a capacidade de encontrar o sublime no estranho e no desconhecido.
Nota IMDb: 8.0/10
2. O Castelo no Céu (1986)
A jovem Sheeta, herdeira de um cristal mágico, e o órfão Pazu embarcam em uma corrida contra piratas e agentes do governo para encontrar a lendária cidade flutuante de Laputa. A trama é uma aventura clássica de perseguição, repleta de engenhosidades steampunk.
Destaque: O design de máquinas e veículos é impressionante. O visual do robô soldado de Laputa, ao mesmo tempo monumental e pacífico, encapsula perfeitamente o tema do filme sobre o uso da tecnologia, seja para a dominação ou para a harmonia com a natureza.
Nota IMDb: 8.0/10
3. O Serviço de Entregas da Kiki (1989)
Kiki, uma jovem bruxa de 13 anos, segue a tradição de se mudar para uma nova cidade para viver independentemente por um ano. Lá, ela abre um serviço de entregas aéreas, aprendendo sobre responsabilidade, solidão e a dificuldade de encontrar sua própria identidade.
Destaque: A representação sensível da luta de Kiki contra uma crise de autoconfiança, que a faz perder temporariamente seus poderes, é um retrato honesto e comovente da depressão juvenil. A amizade silenciosa com a artista Ursula oferece um dos conselhos mais sábios já apresentados em uma animação.
Nota IMDb: 7.8/10
4. Porco Rosso (1992)
Marco Pagott, um ás da aviação da Primeira Guerra Mundial, vive amaldiçoado na forma de um homem-porco e agora trabalha como caçador de recompensas perseguindo piratas aéreos no Adriático. A trama se torna uma batalha aérea para recuperar seu orgulho.
Destaque: O filme é um hino à nostalgia e uma declaração de amor à aviação. Os dogfights aéreos são coreografados com uma graça e humor únicos, enquanto o personagem título, cínico e romântico, é um dos anti-heróis mais carismáticos de Miyazaki.
Nota IMDb: 7.7/10
5. Princesa Mononoke (1997)
O príncipe Emishi Ashitaka, amaldiçoado por um demônio, viaja para o oeste em busca de uma cura. Ele se vê no centro de uma guerra brutal entre os deuses da floresta, liderados pela feroz princesa-lobo San (Mononoke), e os humanos de Vila do Ferro, que consomem os recursos naturais de forma implacável.
Destaque: A recusa de Miyazaki em pintar o conflito em preto e branco. A Lady Eboshi, a antagonista humana, é mostrada como uma líder complexa que emancipa mulheres e leprosos, enquanto os deuses da floresta são tanto protectores quanto vingativos. Esta complexidade moral elevou o patamar do que a animação poderia discutir.
Nota IMDb: 8.3/10
6. O Castelo Animado (2004)
A jovem e reservada Sophie tem sua vida virada de cabeça para baixo quando a arrogante Bruxa do Pântano a amaldiçoa em uma mulher de 90 anos. Em sua busca por uma cura, ela encontra abrigo no misterioso castelo ambulante do belo e dramático mago Howl.
Destaque: A personagem de Sophie é uma das criações mais inspiradoras de Miyazaki. Sua transformação em idosa não é apenas física, mas também liberta sua personalidade, tornando-a mais corajosa e perspicaz. A dinâmica entre ela, o dramático Howl e o demônio de fogo Calcifer é pura química.
Nota IMDb: 8.2/10
7. Ponyo (2008)
A amizade pura entre o menino de cinco anos Sōsuke e Ponyo, uma peixe-dourada princesa que anseia se tornar humana, desencadeia um desequilíbrio cósmico no mundo. O filme é uma releitura fantástica e livre de “A Pequena Sereia”.
Destaque: O estilo visual é uma maravilha à parte. Miyazaki abandonou a animação por computador em favor de um estilo radicalmente orgânico, com fundos em aquarela e criaturas marinhas que parecem pintadas à mão, transmitindo uma sensação de alegria e inocência palpáveis.
Nota IMDb: 7.6/10
8. O Castelo de Cagliostro (1979)
Em sua primeira aventura em um longa-metragem, o ladrão gentil Arsenio Lupin III e seu parceiro Jigen chegam ao pequeno e obscuro Grão-Ducado de Cagliostro para desvendar uma conspiração envolvendo uma princesa herdeira, um castelo repleto de armadilhas e uma máquina contadora de falsificação perfeita.
Destaque: A perseguição de carro inicial é um marco da animação, cheia de energia e fluidez. O filme é uma aventura ágil e bem-humorada, mostrando o estilo dinâmico de Miyazaki em sua forma mais pura e influente, servindo de inspiração para inúmeros cineastas de ação no Ocidente.
Nota IMDb: 7.6/10
9. Vidas ao Vento (2013)
Uma obra de tom biográfico que narra a vida de Jiro Horikoshi, o engenheiro que projetou os caças japoneses usados durante a Segunda Guerra Mundial. O filme explora seu amor pelo design aeronáutico, seu romance com uma jovem e o conflito entre seus sonhos criativos e o uso destrutivo de suas criações.
Destaque: Os sonhos aéreos de Jiro, onde ele conversa com o engenheiro italiano Giovanni Caproni, são sequências de pura poesia. O filme é uma meditação madura e melancólica sobre criatividade, amor e as consequências imprevistas de nosso trabalho, servindo como um testamento espiritual do diretor.
Nota IMDb: 7.8/10
10. O Menino e a Garça (2023)
No Japão em guerra, o jovem Mahito, atormentado pela morte de sua mãe, se muda para o campo. Após encontrar uma garça cinzenta misteriosa, ele é levado a um mundo fantástico e alternativo, uma torre cósmica onde os vivos e os mortos se encontram, em uma jornada de descoberta sobre si mesmo e sobre a vida.
Destaque: A sensação ao assistir é de mergulhar na mente de Miyazaki. O filme abraça uma lógica de sonho, com imagens surreais e simbólicas que se sucedem sem uma explicação direta, desafiando o espectador a interpretar sua jornada. É uma obra-prima complexa e pessoal.
Nota IMDb: 7.4/10
Uma Jornada Além da Superfície
Explorar a filmografia de Hayao Miyazaki além dos sucessos mais badalados é como descobrir uma camada mais profunda de sua genialidade. Estas obras, por vezes menos lineares e mais introspectivas, revelam um artista em constante diálogo com seus demónios e suas paixões: seu pacifismo ferrenho, seu amor incondicional pela natureza, sua fascinação pela aviação e sua crença inquebrantável na resiliência do espírito humano, especialmente através de suas heroínas. Estes filmes não são apenas entretenimento; são experiências que moldam nossa sensibilidade, que nos ensinam a olhar para o mundo com mais nuance e a encontrar beleza nas texturas da realidade e da fantasia.
Qual dessas joias menos conhecidas do Studio Ghibli você está mais animado para descobrir (ou revisitar)? Tem algum outro filme do Miyazaki que você considera uma obra-prima subestimada? Compartilhe suas impressões e favoritos nos comentários abaixo.